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Artigo de Opinião

30/01/2024 08:00

Não estava preparada para o terramoto político que atingiu a Madeira. Foram muitas as emoções para gerir, em tão pouco tempo. Parecia uma criança no dia de Natal, sem saber qual presente abrir primeiro.

Depois de passar tanto tempo a lutar, sem sucesso, para que se fizesse justiça e para que a corrupção fosse desmascarada na Madeira é inevitável que a fé se vá dissipando. Desculpem-me a minha descrença, mas pensei que ia ganhar cabelos brancos, sem assistir a tamanho desfecho. Sempre pensei que o PSD/Madeira a cair, seria por implosão interna, por via das eleições, já tinha perdido a esperança. Muito menos, contei com a hipótese de uma operação judicial. Vi muitas denúncias serem feitas, sem ver qualquer efeito prático das mesmas. A única consequência foi ser alvo de uma carrada de processos por difamação, sobretudo, o meu pai, que deu corpo às balas, sem qualquer tipo de reconhecimento eleitoral e correndo o risco de ir preso. Ainda hoje paga a fatura, a reforma é penhorada todos os meses, fora as custas judiciais, os honorários dos advogados e o enxovalho mediático que os órgãos de comunicação social não se coibiram de fazer. Alguns destes processos ainda estão a ser contestados no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, por violação da liberdade de expressão. O aparelho de justiça na Madeira trucidou-nos, mas no final de contas, tínhamos razão.

Por isso, assistir certos partidos em bicos de pés como o Chega e o PS a tentar surfar onda e a colher os louros de todos aqueles que verdadeiramente combateram a corrupção tem sido penoso. Repentinamente, Paulo Cafôfo, tornou-se numa espécie de “justiceiro” e guardião imaculado da moral da política madeirense. Mas não nos esquecemos que foi o PS, que revalidou a licença do Hotel Savoy e que viabilizou o Dubai na Madeira. Mal chegaram ao poder caíram na teia dos empresários donos da Madeira.

Já o PAN, rapidamente, percebeu que era preciso rolar uma cabeça para evitar ser trucidado pela opinião pública. Puxaram o tapete a Albuquerque, numa tentativa desesperada de sobreviver. A autopreservação falou mais alto do que a presunção da inocência que tanto tinham invocado e ainda conseguiram puxar pela cartada do feminismo, falando na possibilidade de uma mulher para liderar o novo governo. A desfaçatez destas personagens, em usarem as causas que dizem defender, para fugirem com o rabo à seringa é impressionante.

Albuquerque ainda deixou um legado positivo de democratização da política regional. Outros roubaram, saíram impunes e ainda deixaram um rasto de perseguição à oposição. Temo que acabe como o bode expiatório, para calar o descontentamento público, para que os demais possam continuar os seus negócios e delapidar o orçamento regional. A resistência de Marcelo em anunciar a dissolução do parlamento madeirense, mesmo que seja daqui a dois meses, não é bom prenúncio.

As hostes do poder regional foram brutalmente atingidas e ao contrário do que muitos julgam não foi só a classe política e o poder económico atingido, mas também todos os seus alicerces desde a comunicação social, ao aparelho de justiça regional e à própria igreja. A fraude foi gigante. Todos estes poderes uniram-se e foram coniventes durante décadas e constituem a razão pela qual o regime e os seus protagonistas se julgaram intocáveis e impunes. Como dizia Lord Acton: “o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus”.

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