As fake news e a desinformação não são exclusividade dos tempos modernos. O general romano Marco António cometeu suicídio motivado pela falsa notícia de que a sua mulher, Cleópatra, havia ceifado a sua própria vida.
A história e a atualidade indicam que a liberdade de expressão e a verdade talvez estejam mais ameaçadas por dirigentes de diversos Estados, em comparação com as mentiras que circulam na Internet e respetivas plataformas.
Nas últimas décadas, a comunicação de massas originou um fluxo de informação sem precedentes. A distorção dos factos expandiu-se devido à quantidade de agentes envolvidos e ao crescente número de consumidores. A falsa informação, a propaganda, a realidade distorcida, a desinformação dirigida ou as fake news constituem nos tempos atuais uma real ameaça à democracia e ao direito à informação.
Não é de hoje que mentiras são divulgadas como verdades, mas foi com a vinda das redes sociais que este tipo de publicações se popularizou. A imprensa internacional começou a usar com mais frequência o termo fake news durante a eleição de 2016 nos Estados Unidos, na qual Donald Trump tornou-se presidente.
Os motivos para que sejam criadas notícias falsas são diversos. Em alguns casos, os autores criam títulos absurdos com o claro intuito de atrair acessos aos sites e, assim, faturar com a publicidade digital. No entanto, além da finalidade puramente comercial, as fake news são também utilizadas para criar boatos e reforçar um pensamento, por meio de mentiras, difamação ou da disseminação de ódio.
Há poucas décadas, a questão da manipulação mediática era designada por “desinformação”. Diversos estudiosos do tema, desde especialistas em media, jornalistas ou sociólogos de vários países envolveram-se num intenso debate para tentar descodificar este fenómeno, que registou um enorme incremento após o referendo sobre o “Brexit” em junho de 2016.
A “cultura da distração”, o entretenimento, a descontextualização, a utilização de diversas plataformas das redes sociais com objetivos políticos, também permitiram a formação de um clima que não promove sentimentos positivos, pelo contrário! Esta disseminação tem promovido a atração dos seus frequentadores para grupos que propagam o ódio, a desilusão, o medo e o rancor, no qual os “outros” são os responsáveis por tudo. Assim, as notícias falsas ou fake news, por força da capacidade veloz de comunicação proporcionada pela Internet, ganharam força e um poder incomensurável.
Não se pode descorar, ainda, a figura da desonestidade intelectual, cujos efeitos danosos são equivalentes; entende-se por desonestidade intelectual a ausência de honestidade na realização de atividades intelectuais, pensamento ou toda forma de comunicação. A título de exemplo, pode-se afirmar que a omissão consciente dos aspetos da verdade, alterando-se intencionalmente o resultado do raciocínio e da conclusão é uma forma de desonestidade intelectual.
Os últimos acontecimentos nacionais e regionais geraram uma corrida desenfreada à informação e geraram muita contrainformação, colocando várias personalidades e entidades debaixo de fogo, muitas vezes com base em opiniões, em versões pouco técnicas baseadas no fenómeno do “acho que”, prejudicando o bom nome e a dignidade de muitos concidadãos; haja filtro, empatia e honestidade intelectual, porque não vale tudo, e como diz o povo sabiamente “a mentira dura enquanto a verdade não chega”.