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Artigo de Opinião

20/04/2024 08:00

«[...] Onde emergimos

da noite e do silêncio

E livres habitamos

a substância do tempo»

Sophia de Mello Breyner Andresen,

in “O Nome das Coisas”

Daqui a cinco dias completam-se 50 anos sobre aquela madrugada que nós esperávamos, aquele dia inicial inteiro e limpo, parafraseando Sophia.

A par do sol que despontou nessa madrugada nasceu também a esperança na Liberdade e Democracia às quais, tal como a um amor antigo e sempre presente, nem sempre temos dedicado a merecida atenção.

Associo sempre as minhas ténues memórias do 25 de Abril e do primeiro 1º de Maio, que se se lhe seguiu, a rostos felizes, a uma alegria quase explosiva. Recordo melhor o ambiente das primeiras eleições, que se realizaram exatamente um ano mais tarde, para a Assembleia Constituinte, talvez por ter acompanhado a minha mãe e a minha avó na longa fila de gente alegremente ansiosa que se cruzava com quem, em sentido contrário, sorria depois do dever exercido.

Num Portugal que dava os primeiros passos na Democracia (inseguros, como são sempre os primeiros passos) não me lembro se houve voto útil, mas imagino que sim, a avaliar pelos discursos que ouvi em quase todas as eleições seguintes: «Não votar, é um voto nos comunistas» ou «Se não votarmos, votam só os fascistas».

O chamado voto útil, ou tático, acontece quando, em vez de votarmos naquela que seria a nossa primeira escolha, optamos por uma outra por consideramos ter mais hipóteses de conseguir impedir os nossos adversários de chegar ao poder. E nas próximas eleições não será diferente.

Sim, é verdade, as eleições são para deputados, o Presidente do Governo não é eleito diretamente no dia 26 de maio. Mas também é verdade que só a Assembleia Regional que poderá garantir o apoio mínimo necessário a qualquer Governo.

Por isso, a esta distância, apostaria que daqui a cinco semanas a escolha do nome do próximo Presidente do Governo Regional da Madeira se resume a dois nomes: Paulo Cafôfo ou Miguel Albuquerque. Não é matematicamente expectável (e ainda menos politicamente) que haja uma maioria que não inclua um destes nomes.

Podemos dizer que há muitas escolhas possíveis no boletim, mas são muito poucos que se traduzam num voto que mude a Madeira, um voto que nos devolva o orgulho na nossa Região.

Na verdade, são mesmo poucas escolhas, principalmente do lado direito do espectro político: O CDS que já em 2019 desperdiçou a oportunidade de fazer história está hoje mais fragilizado pelo abraço em que quis envolver o urso, mas desejoso para voltar a seus braços; A IL diz que não faz acordos de governo (mas se fizer será com o mesmo urso); O partido Chega quer ser «o-urso-em-vez-do-urso»; E o PAN procura apenas mais uma oportunidade para cuidar do urso.

Votar à esquerda poderia criar condições para uma mudança política. No entanto por vezes as árvores não deixam ver a floresta, que é como quem diz que alguma tendência para se afirmarem como «a verdadeira esquerda» ou como «a melhor oposição», atacando os outros mais próximos do seu bloco ideológico, contribui para uma pulverização que não ajuda a ninguém, e até reforça a abstenção.

Daqui a cinco semanas temos uma nova oportunidade de mudar e construir uma alternativa responsável. Oiça as propostas, escolha uma que possa trazer uma lufada de ar fresco, que para bafio já basta o que basta.

A si, que se interessa pelo futuro, ao ponto de ter chegado a estas palavras finais, caberá escolher a quem o seu voto será mais útil para limpar a imagem da Madeira, para virar a página.

Porque, no fim do dia, o verdadeiro voto inútil é mesmo aquele que não se usa.

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