Três dias depois de ser conhecido o relatório da comissão independente que averiguou e identificou a existência de 4800 potenciais vítimas de abuso sexual por membros da Igreja, uma aparição inesperada ganha notoriedade.
Um ex-padre, o madeirense Anastácio Alves, acusado de crimes de abuso sexual contra criança e desaparecido vai para mais de quatro anos, aparece de mochila ao ombro e advogado a tiracolo, para se entregar na Procuradoria.
Esteve fugido mais de cinco anos e de repente os seus advogados, supostos conhecedores da lei, dizem-lhe que o melhor que ele tem a fazer é apresentar-se na Procuradoria-Geral da República?
É o que faz e de modo muito estranho, uma vez que até temos fotografias da sua entrada nesta instituição, acompanhado pelos seus advogados, logo avisaram a imprensa da sua boa ação.
Estaremos perante uma encenação, montada para transformar esta situação num "espetáculo" para português ver?
Com fotografias e tudo e uma conclusão mais ridícula ainda: a de que não era ali o lugar onde deveria ir, se queria fazer algo quanto à sua situação de fugitivo/desaparecido/pessoa em parte incerta vai para mais de quatro anos!
Assim, impõe-se perguntar se, ao levarem o senhor Anastácio Alves para a rua da Escola Politécnica em Lisboa, lugar onde fica a Procuradoria, estarão os advogados deste a promover um gigantesco ato de incompetência (deles próprios) ou a um gigantesco ato de propaganda (com imprensa e tudo para que a coisa saia nas notícias)?
Em suma, quão inocente é esta aparição de Anastácio Alves?
2. Não bastando esta curiosa e muito estranha ação, cujo isco a imprensa "mordeu" de modo perfeito, para os interesses de quem queria ser visto, importa ainda avaliar o seguinte.
Chegado o "circo propagandístico" à Procuradoria, lá é-lhes dito que deveriam ir ao Departamento da Cooperação Internacional.
Depois de lá irem, são informados de que deveriam ir a França.
Depois ainda, de que afinal deveria apresentar-se no Funchal!
Anastácio Alves, apesar de ser acusado de cinco crimes de abuso sexual nunca poderia ser detido fosse por quem fosse, como diz a Procuradoria-Geral da República.
Não podem os cidadãos perguntar-se o seguinte:
- será que os advogados de Anastácio Alves não estavam fartinhos de saber isto e por tal era conveniente uma pequenina encenação para uma rábula de vitimização do pobre coitado que até se quer entregar?
- será que a Procuradoria e demais órgãos não conseguem perceber o quão ficam desacreditados, aos olhos do cidadão, que ainda acredita nas instituições, e não deveriam estar precavidas para este tipo de tentativa de manipulação?
O que é certo é que tudo aconteceu e a justiça não ganhou em credibilidade o que Anastácio Alves pode ter ganho em propaganda da sua tentativa de mitigar a fuga durante anos.