Esta situação inusitada, criada pelo PS e pelo PCP, com algumas nuances fez-me lembrar a fábula do sapo e do escorpião. A bem da verdade, toda a história da aliança das esquerdas não passa de uma série de episódios sobre sapos e escorpiões. Resumindo a fábula: temos um escorpião que pede a um sapo que o leve através de um lago, o sapo tem receio de ser picado pelo escorpião durante a travessia, mas o escorpião argumenta que se ferrar o sapo, este iria morrer e o escorpião como não sabe nadar afogar-se-ia. O sapo acede na travessia conjunta e lá carrega o escorpião, mas, no meio do percurso o escorpião acaba por ferrar o sapo com o seu veneno, condenando ambos à morte. Quando em agonia o sapo perguntava ao escorpião porque o tinha picado, o escorpião respondeu que esta é a sua natureza e nada poderia ter feito para alterar este fatal destino…
Em 2015 o lago estava confuso, o PSD tinha ganho as eleições e o PS estava perdido e Costa despedido. Mas como sapo astuto, António Costa lá convenceu dois escorpiões, o PCP e o Bloco a constituir uma frente de esquerda para não perder o lago. O gordo sapo temia os escorpiões, mas estes também não confiavam no sapo, com a sua língua pegajosa poderia fazer estragos e acabar por comer os lacraus. Combinaram então que o sapo os carregaria à vez pelo lago mediante o cumprimento de algumas exigências (leia-se loucuras marxistas-leninistas). À data, a garça-real com peúgas brancas que presidia ao lago era Cavaco. Embora com pouca graça, a garça presidente era esperta e conhecia bem a natureza de cada um dos bicharocos envolvidos. Assim, obrigou-os a firmar um acordo… uma jura. E lá se passaram quatro anos e o sapo foi carregando pelas margens os dois escorpiões acedendo aos seus devaneios, mas mantendo o poder. A cada orçamento mais uma travessia e lá iam os escorpiões às costas de Costa a exigir e a revindicar… e o país a penar.
Mas como não poderia deixar de acontecer, o sistema lacustre foi-se deteriorando, em 2019 era mais um pântano do que um lago. De novo a escrutínio, o sapo não conseguiu os seus intentos e teve que se aliar novamente aos escorpiões. Para azar do resto da bicharada, a garça presidente era outra, embora com mais graça, a garça Marcelo entre as selfies e as bicadas frenéticas não exigiu compromissos, não queria confusões com o sapo nem com os escorpiões, pois em pouco tempo tinha também eleições. Mas os escorpiões estavam um bocado incomodados, pois com tanta proximidade com o sapo anafado e burguês, o resto da bicharada já não os respeitava, afinal não eram assim tão "sinistros" (leia-se de esquerda). O primeiro escorpião a saltar foi o Bloco, os resultados estavam a piorar e a sua imagem no lago estava em queda. Logo na primeira travessia para aprovar o orçamento de 2020 abstiveram-se da boleia e o sapo teve-se que amanhar apenas com o escorpião da foice e do martelo.
Chegados a 2021, a relação entre o batráquio e os escorpiões não era a melhor. Com as continuadas negas e desprezo do escorpião bloquista, a travessia para 2022 não se avizinhava fácil. O companheiro fiel das últimas aventuras proletárias estava combalido depois de um resultado miserável nas autárquicas…o sapo socialista bem que tentou, mas o escorpião estava a esticar a corda, e na travessia, mesmo com os avisos da garça, o escorpião comunista não resistiu e ferrou o sapo socialista. Mas como verdadeiros sobreviventes políticos e ao contrário da fábula, nenhum faleceu. O sapo lá se arrastou para um baixio do lago (não escolheu nenhuma margem) e o escorpião lá se aguentou e agora diz que a culpa não foi dele. Dentro de alguns dias o lago vai de novo a eleições, espero que a fauna indígena não cai na esparrela do sapo viscoso nem dos escorpiões venenosos. O lago precisa de muitos cuidados e de uma drenagem urgente do lodo socialista e não é com sapos que vamos lá. Para esta importante tarefe sugeria um simpático pato, o Pato-Mandarim, tem umas plumagens alaranjadas, é bonito, sabe nadar, não se dá com escorpiões, come sapos e quando precisa voa… e já me esquecia, a garça até gosta dele.