Depois do empreendedorismo que lhe é característico (reitero, estamos a falar de um lutador e trabalhador incansável - conheço-o há três décadas e cheguei a partilhar o palco com ele, onde essa e outras características sobressaíam: empenho, entrega, responsabilidade, trabalho a desoras e compromisso) e de uns quantos incidentes, sobretudo de aproveitamento político, lá conseguiu fundar a Associação e mais do que isso, conseguiu materializar o seu projeto em concretizações visíveis de avanço e inclusão social num bairro que durante décadas fora deixado entregue a si mesmo por governações sucessivas.
Esta Associação promoveu e dinamizou ações culturais e lúdicas envolvendo a comunidade, revitalizando um bairro social com problemas de coesão social - trabalho esse pouco reconhecido e pouco apoiado por algum quadrante político a quem carece aprofundar conhecimentos sobre esta temática que, aliás, se deveria alargar a muitos outros dos bairros sociais da Região.
É que a importância destes projetos para a revitalização dos bairros sociais está largamente comprovada pela sua implementação e execução em inúmeros bairros do nosso país e no estrangeiro, incidindo em eventos pedagógicos através de métodos educacionais não formais - por exemplo recorrendo à arte - para a inclusão de cidadãos socialmente desfavorecidos. Sim, a arte, detentora de uma linguagem universal e reconhecidamente um dos grandes "motores de inclusão e mudança social", pela sua propriedade especial de unir as pessoas e de promover a sociedade.
A finalidade destes projetos é que, através da democratização da linguagem artística, criativa e pedagógica, se promova a mudança social, pelas dinâmicas comunitárias à luz dos costumes e vivências locais. A arte e a educação - esses pilares da Democracia e do pensamento crítico que tanto assustam alguns órgãos políticos... - são os métodos adotados por projetos desta natureza, como instrumentos comprovadamente eficazes no combate à exclusão social, pelo recurso à interação entre pessoas, inclusive de diferentes gerações, a par da aprendizagem de princípios de cidadania. Pela promoção da socialização, em última instância, melhoram a qualidade de vida das populações, através de modelos de inclusão dos moradores dos bairros sociais, consciencializando-os e sensibilizando-os para inúmeras causas sociais que flagelam estas micro-comunidades, desde a violência à toxicodependência, entre outros flagelos...
A inclusão define-se precisamente pelo estímulo da consciência social dos cidadãos, e pelo fomento da autoestima comunitária e da noção da sua importância na sociedade, pelo que projetos como este assumem uma enorme vertente solidária, dado que desenvolvem nos "atores sociais" a partilha de ações, manifestações e experiências, identificando as necessidades e dificuldades do seu bairro, inclusive as materiais, de forma a diminuí-las ou eliminá-las.
E só alguém com visão humanista, altruísta e democrática - alguém muito, mas mesmo muito trabalhador! - poderia levar a bom porto tal projeto na RAM. Aliás, é atentar à grandeza do projeto em si por várias vezes reconhecido e premiado a nível nacional e internacional.
Obrigada, Olho-te! Que alguém (nos) Olhe sempre assim, pela Madeira.