As sondagens ficaram muito aquém dos resultados, mas serviram para clarificar o medo que existe na sociedade madeirense em revelar o seu descontentamento em relação ao poder, isso foi feito silenciosamente nas urnas.
Os resultados eleitorais evidenciaram que a população já não quer maiorias absolutas e que pretende que o poder dependa da negociação com vários partidos políticos. Infelizmente, o CDS e o PAN, entregaram os destinos da Região em troca de um prato de lentilhas.
Desta vez, foram necessários não um, nem dois, mas três acordos para o PSD/M se manter no poder. Está a ficar cada vez mais difícil. O primeiro acordo foi com o CDS e está resumido a uma distribuição de lugares pelo Governo, vergonhosamente, nem uma proposta apresentaram. O segundo acordo foi com José Manuel Rodrigues, feito à revelia do CDS, exclusivamente, para a Presidência da Assembleia Legislativa. Mais mercantilismo. Por fim, o último acordo e a grande surpresa eleitoral: o PAN. Pensava-se que seria a Iniciativa Liberal ou o Chega, eis que para desalento dos próprios, que estavam à espera de serem cortejados e de fazer sofrer o adversário, a jovem estreante na política, Mónica Freitas, passa à frente e estende a passadeira vermelha para os 50 anos de PSD. Até teve piada. Não fosse a coisa ter sido feita de forma tão leviana. Foi tudo tão rápido que até parece ter sido combinado antes das eleições. Não seria inédito. Há partidos emergentes que são criados ou infiltrados para depois, quando necessário, serem bengalas e tirarem votos aos verdadeiros oposicionistas.
De outra forma, ninguém consegue entender como é que um partido ligado ao ambiente, pode apoiar um Governo que tem praticado na Madeira todo o tipo de atentados contra a natureza. Como é que o partido defensor dos animais pode fazer acordos com partidos a favor das touradas, com partidos contra o aborto e pouco ou nada apologistas da emancipação feminina e da causa LGBT. Fecharam o acordo em 24 horas e sem que ninguém conhecesse o seu teor. Ainda para mais feito às escondidas, numa sala de hotel, como se de algo criminoso se tratasse. Pareciam envergonhados com o que estavam a fazer.
Isto de votar em figuras sem historial de luta, caídas de paraquedas na política regional, origina estes episódios caricatos. Há um mês Mónica Freitas era uma ilustre desconhecida da política madeirense e agora coube-lhe decidir o futuro do PSD, pena não ter sabido dar luta.
Há quem tenha a teoria que tudo se resumiu à escolha mais barata. Mas já diz o ditado popular que o barato sai caro e este acordo poderá ser o canto do cisne do regime: todos ficaram mal vistos.
Não foi por acaso que Paulo Cafôfo, percebendo a fragilidade do PSD com o PAN, já se encarreirou novamente para a presidência do PS. Existe uma estirpe de políticos que só se lembram do povo quando é conveniente. Sérgio Gonçalves, o atual presidente do PS, fez a travessia no deserto, como lhe foi pedido, e em troca vai para a vice-presidência da Assembleia. Com políticos que só estão preocupados com o seu "lugarzinho", a oposição nunca vai conseguir desenvolver um projeto agregador e ser uma alternativa credível e mobilizadora ao PSD.