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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

28/01/2024 08:00

O menino, Manuel de Nóbrega, nasceu na paróquia do Curral das Freiras, diocese do Funchal, a 16 de abril de 1928. Foi batizado na sua paróquia, devido a seus pais serem católicos, assim como todas as crianças aqui nascidas. Embora situada dentro de um vale muito profundo de uma beleza selvagem e imponente, que alguns estudiosos sugerem ter sido um antigo vulcão extinto. Foi ali que Manuel frequentou a escola primária, recebeu a educação cristã dos pais e na catequese paroquial, e alimentou uma grande devoção a Nossa Senhora do Livramento.

Era um menino inteligente, observador e enamorado da natureza, não só dos rochedos e penhascos que o encerravam de ver o Mar, mas amava também tudo o que era pequenino, mesmo escondido nas fendas da montanha. O pároco, que o conhecia, era de opinião que ele deveria estudar, talvez no Seminário para ser padre, ou exercer uma outra profissão.

Depois de um pequeno exame entrou de facto no Seminário, num tempo em que este era dirigido por um excelente sacerdote alemão de nome Padre Schemits, homem de Deus e das ciências naturais, e de outros sacerdotes muito empenhados em preparar jovens para a altíssima vocação sacerdotal, para recuperar a diocese da vil e apagada tristeza que a maçonaria tinha propagado em Portugal. O Bispo, homem de virtude e ciência, foi um grande lutador contra a propaganda ateia e demolidora das verdades da fé. O Manuel de Nóbrega terminou a teologia e foi ordenado sacerdote, tendo uma festa de arrombo, como se dizia, na paróquia. Pessoalmente, participei nessa alegria de ser padre e estudar muita teologia e Sagrada Escritura, enquanto o Padre Nóbrega era um sacerdotal amigo e zeloso do seu povo, amando ao mesmo tempo a sua vocação sacerdotal e científica. Na realidade, os educadores do Seminário pediam aos seminaristas para que durante as férias procurassem nas suas terras plantas consideradas extintas na natureza, peixes do vasto mar, etc. para criar na diocese um herbário que não existia na Madeira senão no Seminário do Funchal. Um dos homens discípulo do alemão Padre Smitz foi o Reitor do Seminário Cónego Jaime Barreto, que fora capelão militar na França durante a guerra. Nas longas corredoras do Seminário da Encarnação, infelizmente vendido em nosso tempo, encontravam-se armários com portas de vidro, conservando dentro uma riqueza muito singular que atraía vários sábios europeus que se dedicavam ao estudo das criptomérias. O Padre Nóbrega a partir dos doze anos, com o Reitor Cónego Barreto que era um grande naturalista, tinha como seu discípulo predileto o Manuel Nóbrega que lhe trazia do Curral das Freiras musgos que descobriu com outras espécies, de tal forma que aos 14 anos já publicara na revista científica Brotéria, na Secção de Ciências Naturais, novas espécies colhidas no seu Curral das Freiras. Ao longo dos anos foram publicadas oito séries da referida revista com novidades do arquipélago, sendo diretor da revista o célebre Padre jesuíta Afonso Luisier, com o diretor Dr. Herman Persson, do museu de História Natural de Estocolmo.

O padre Nóbrega sabia de cor o nome destes musgos que tinham um nome latino difícil de decorar, dou um exemplo. Cyperus argilincola Nóbrega e Veronica madeirensis Nóbrega...O Padre cientista percorreu todos os rochedos da Madeira, chegando a locais muito difíceis como no caso do Cabo Girão, quando amarrado a uma corda desceu ao longo do rochedo, com uma mão na corda e os pés na rocha, para recolher um pequeno musgo escondido numa fenda escarpada.

Quando o Padre Nóbrega, já ancião, colecionava livros nos antiquários de Lisboa, e vivia no Caniço, o Senho Dom Maurílio, juntamente comigo, gostávamos de visitá-lo, porque amigos de longa data, no Seminário. O Padre Nóbrega falava-nos da sua vida de alpinista das nossas serras, disse-nos: “Nunca tive nenhum desastre nos penhascos da nossa serra, só tive uma queda dentro da igreja!” Na realidade, quando era pároco e realizava obras junto do teto, colocou um pé numa tábua que não estava fixa, e tombou no pavimento sem grandes ferimentos.

Ao aposentar-se recebeu uma condecoração do Presidente da República Portuguesa e louvor do Conselho do Governo da Região Autónoma da Madeira. Agora, compete ao Curral das Freitas, comemorar este seu filho ilustre.

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