A verdade é que os serviços do Estado não têm capacidade de dar resposta às necessidades do povo, sobretudo, em situação de aperto.
Durante esta última semana, debateu-se muito sobre a situação nos serviços de urgência de obstetrícia nos hospitais que continuam a fechar por todo o país, e se o problema seria pontual, conjuntural, circunstancial ou estrutural. Ou melhor, se seria uma questão financeira ou de recursos humanos.
Se olharmos a fundo esta questão e recuarmos até aos anos 90, reparamos que atualmente, o SNS tem mais orçamento, mais médicos, mais especialistas e, por fim, menos partos que há 30 anos atrás, sendo claro que é uma questão de gestão.
Sim, não é novidade a falta de médicos e de enfermeiros no SNS. Nem é novidade a fuga de profissionais de saúde do serviço público - seja para o estrangeiro, seja para o setor privado - devido às melhores condições salariais e de trabalho que oferecem. Nem é novidade a falta de dinheiro para o serviço público de saúde, ou da discrepância salarial entre os médicos e os clínicos do Estado.
Mas não tenhamos ilusões: quando vários médicos tiram férias ou se ausentam na mesma altura, não havendo nenhum controlo por parte da administração hospitalar, trata-se claro que é um problema de organização, de planeamento, de controlo e de gestão.
E a questão vai bater à porta do Ministério de Saúde e da Ministra, que não tem respostas nem soluções para nos apresentar, afirmando ser um problema estrutural e deitando as culpas ao covid e à queda do Governo.
Convínhamos: estes problemas não são de agora. São old news. Mas a questão que se coloca agora é como chegámos a esta emergência nacional e como sair deste ponto sem rutura o mais depressa possível?
As propostas apresentadas são apenas promessas. Não vamos tapar o sol com a peneira. Concursos abertos para entrada de médicos - médicos ou tarefeiros? Buscar médicos estrangeiros - quem, uma vez que no estrangeiro as condições são mais atrativas que em Portugal? Por isso, saliento: são apenas promessas. Lembramo-nos da promessa do Estado em garantir um médico de família a todos os portugueses - que já pressupunha a falta de médicos no sistema - e tal não sucedeu.
No que diz respeito à saúde, todos os portugueses devem ter o mesmo direito de acesso a serviços de qualidade equivalente.
Resumindo: o que a Ministra propõe é um plano de contingência. E o Governo, que adora os planos de contingência, adotou esta ideia. Tal como fez com a questão do caos vivido no aeroporto e dos turistas e emigrantes que ficam mais de cinco horas à entrada para entrar no país, sendo um péssimo cartão de visita.
Aos anos que os portugueses estão mais que familiarizados dos problemas do Estado e que sentem na pele a desumanidade das opções do Governo. Obrigar uma grávida, no seu terceiro trimestre, deslocar-se para um outro hospital público com uma distância de uma hora, nem sendo possível ir de ambulância num dia com 30º? Ou obrigar um turista ou emigrante a aguardar em pé 5 horas no aeroporto, não havendo qualquer distância de segurança em plena pandemia? É desumano, cruel e atroz!
A verdade é que Portugal está a assistir um verdadeiro descalabre, consequência unicamente do Governo e daqueles que assistem de camarote!!!