MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

19/06/2024 08:00

Desde os anos 70, influenciada pelos escritos de Heidegger, especialmente pelo livro “Construir, habitar, pensar” (1951), a fenomenologia trouxe uma outra profundidade à arquitetura, enfatizando a dependência entre espaço e vivência, mostrando como as experiências nesses ambientes são profundamente influenciadas pelos materiais, formas, texturas, cores, luz e sombra que os compõem. Pensadores como Gaston Bachelard e Christian Norberg-Schulz ampliaram essa compreensão. É desta verdade dos materiais e da sua nobreza intrínseca que importa falar, pois são essas propriedades que afetam diretamente a nossa perceção do espaço.

Os materiais mais elementares como a madeira, a pedra, o metal e o vidro possuem uma autenticidade que se manifesta pelo toque, pela refração da luz e pelos sons que produzem. Quando bem utilizados, estes materiais enobrecem a arquitetura e enriquecem a experiência sensorial dos ocupantes. Peter Zumthor demonstrou como a textura da madeira envelhecida, a frieza da pedra polida e a translucidez do vidro criam narrativas espaciais que conectam profundamente as pessoas ao espaço e ao ambiente. Aqui, neste jogo, o tato é talvez o sentido mais importante - como provavelmente qualquer arquiteto confirmará – importa tocar em todo o tipo de materiais, como se de um gesto inconsciente se tratasse; perceber a sua textura, os seus veios, a sua temperatura, como se comporta ao corte, à pressão e à dobragem, no fundo é esta verdade dos materiais, que contribui para uma boa experiência da arquitetura.

Contudo, nos últimos anos na Madeira (e um pouco por todo o mundo), têm-se inundado a construção de materiais industrializados derivados do plástico – mais baratos, bem sabemos, mas incapazes de dotar um espaço de um verdadeiro conforto. No fundo, o objetivo da aplicação destes materiais não é acrescentar valor arquitetónico ou sensorial às construções e à experiência humana, mas sim, pura e simplesmente, reduzir o custo da construção. Um objetivo válido, mas que não pode servir de pretexto para sacrificar a qualidade espacial e arquitetónica. Criou-se uma retórica (que serve alguns) em que o preço é o elemento decisivo no resultado final da construção descartando-se, à partida, materiais mais nobres.

Numa época de apregoada responsabilidade ambiental, é imprescindível optar por materiais que sejam duradouros, transformáveis, reutilizáveis e que reflitam igualmente um compromisso necessário com o meio ambiente e com as futuras gerações. Existem inúmeras alternativas de baixo custo que podem ser empregadas sem sacrificar a nobreza dos materiais, inclusive através da sua reutilização e transformação. Há uma necessidade urgente de retornar à verdade dos materiais, resgatando o seu uso de maneira consciente e integradora no seu contexto de modo a criar espaços e ambientes mais significantes.

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