O 25 de abril de 1974 demonstrou a coragem e união de um povo cansado de uma ditadura que os levou ao isolamento, à pobreza, à prisão, à castração de direitos humanos básicos fundamentais, não permitindo que as pessoas fossem quem são, restringindo as mulheres a cidadãs de 2°. Importa relembrar que as mulheres não tinham o direito ao voto, e muitas foram as corajosas, que contornaram as leis para que estivessem em pé de igualdade com os homens. As decisões políticas não passavam pelas mesmas, sendo o seu papel praticamente reduzido a mães e donas de casa. O precisar da autorização do governo ou do marido, o estar limitadas a determinadas profissões consideradas mais femininas, a discriminação com base na forma como se vestiam, falavam e apresentavam. E podemos também aqui falar das desigualdades de que os homens eram alvo, não sendo permitido demonstrar sentimentos, tendo que ser o pilar da casa, sustentar toda uma família e enfrentar guerras das quais não começou nem muitas vezes concordavam. Ainda hoje vivemos as consequências desse período e por isso não nos deixemos cair no erro de pensar que esses eram melhores tempos. Engane-se quem diz que havia mais respeito, havia mais medo. As mulheres viveram durante anos guerras das quais os homens não sonham. As mulheres sempre foram soldados das mais gravosas atrocidades, físicas, verbais, sociais. Ainda hoje o somos. Já votamos, já escolhemos a nossa profissão, já decidimos se casamos ou não, já viajamos sem autorização, já chegamos a cargos de liderança e poder, mas a que custo? A que velocidade? Com que entraves e limitações? As conquistas das mulheres de abril não devem nunca ser apagadas. Assistentes sociais, professoras, feministas, ativistas, jornalistas, médicas, enfermeiras, foram tantas e continuamos ainda assim a ser tão poucas. Somos o sexo maioritário segundo os dados da população mundial, e ainda assim, somos apenas 30 a 40% da representação dos parlamentos. O lugar onde se decide sobre a vida das pessoas, onde se criam leis e propostas, é onde menos existe o sexo que vive em maioria.
Mais do que as leis é preciso as práticas serem favoráveis às mulheres e garantirem a tão proclamada igualdade, que alguns dão como garantia. A medicina tem de adaptar-se ao corpo feminino, olhando aos sintomas e especificidades da mulher. Violência obstétrica, ataque cardíaco, endometriose, tantas vezes apelidado de histerismo e ansiedade. Coloca-se uma carga tão pesada à mulher. Há tanto a fazer após estes 50 anos de luta.
Quando achamos que porque atingimos 40% de paridade estamos no caminho certo para a igualdade, então ainda não sabemos nada. Quando consideramos que criar dentro de uma estrutura partidária, um grupo de mulheres é dar-lhes visibilidade, não as estamos a enganar só a elas, mas a toda uma sociedade, que nos diz que devemos ficar satisfeitas com o que nos dão e gratas pelos espaços que criam para nós.
Mas isto existe porque ainda são os homens a maioria nos parlamentos a tomar decisões sobre o corpo da mulher e que por ego se recusam a ouvir mulheres e em lhes dar espaço para se afirmar.
Dizia Simone Beauvoir “Não se nasce mulher, torna-se mulher.” E para nos tornarmos mulheres verdadeiramente livres, precisamos de ser incluídas nas discussões, nas decisões, precisamos de estar no mesmo patamar. O 25 de abril é sobre pessoas. Foi feito por pessoas e para pessoas, e mais além das ideologias partidárias, é pelas pessoas e com elas em primeiro lugar, que devemos continuar a lutar.