Hoje, escrevo (ainda) sobre duas datas, que importam ser comemoradas, pelas nossas meninas e mulheres: o Dia Internacional das Mulheres, que se assinala a 8 de março e o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, a 11 de fevereiro. E, não podia escrever sobre outro qualquer assunto, por muita atualidade a que se assista. Tive a sorte de ser criada e educada pela melhor de todas a mulheres, a minha avó Cidália. Deixou-me no alto dos meus 7 anos, poucos dias depois de ter iniciado a escola dos grandes, a primária. Já sabia ler e escrever. Tinha aprendido com ela. Nas tardes bem passadas, sentadas à mesa da cozinha. Ainda sinto o cheiro da madeira da mesa, que era enorme, para o meu tamanho, e do perfume que emanavam os seus cabelos pintados, arroxeados. Era nesta mesa que liamos o Diário de Notícias. Foi nela que ganhei o gosto pela poesia. Pelos seus poemas, caseiros, com perfume a essência de baunilha. Ou seria de amêndoa? Talvez a coco, que partíamos, na tábua de pedra. Todos os dias penso na minha avó. Por esta altura, se fosse viva, teria eu lhe ensinado a escrever e a ler, nos moldes dos dias de hoje. Tinha-a apresentado ao mundo digital. Ter-se-ia saído lindamente. Tenho a certeza.
A digitalização, ou melhor, a inovação tecnológica, tem um enorme impacto na vida das mulheres e das raparigas. Esta integração das tecnologias digitais pode e deve desempenhar um papel importante na capacitação e independência económica das mulheres, trazendo novas oportunidades e espaços de trabalho. Tem tido reflexos bem visíveis, que vão desde a aprendizagem até participação cívica. Porém, importa salientar que a transformação digital ainda concorre para a perpetuação de estereótipos, discriminações e desigualdades existentes, reforçando a exclusão com base no sexo, na idade, na classe social, no nível educacional, no território, na deficiência, etc.. A verdade, é que a transformação digital teve um impacto imediato sobre o mercado de trabalho, nomeadamente em matéria de perspetivas e de oportunidades de emprego. Os dados mais recentes, dão conta que na UE e em Portugal, as mulheres constituem apenas 19% da força de trabalho da economia digital. Por tudo isto, julgo que se torna urgente que o currículo escolar seja ainda mais inclusivo, em termos de género, para assegurar que as raparigas estejam preparadas para os desafios futuros, incluindo a segurança online, pela verdadeira eliminação de estereótipos, pelo combate à discriminação e pela prevenção. Pelas nossas meninas e pelas nossas Mulheres. O Dia da Mulher foi celebrado, pela primeira vez, em 1911. Passou a ser comemorado internacionalmente no ano em que eu nasci. Em 1975. Este dia tem as suas raízes mais profundas na luta contra a exploração e a opressão das mulheres, herdando, por isso, uma tradição de protesto e de luta, que se tem vindo a atualizar ao longo dos tempos. Em 2015, as Nações Unidas, instituíram o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência. Pela promoção do acesso das mulheres e raparigas à educação, formação e atividade de investigação científica e tecnológica. A minha querida avó Cidália teria gostado de ter vivido neste tempo.