MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

18/07/2022 08:00

Locais como Santarém, Leiria, Aveiro, entre outros, estiveram em perigo máximo. Vários distritos em flamas, tendo helicópteros, aeronaves, bombeiros e residentes atiravam água para tentar travar o fogo que se alastrava.

Animais mortos, habitantes e bombeiros feridos, habitações arruinadas, florestas devastadas, veículos destruídos, já para não mencionar das perdas de outros bens dos indivíduos, são os relatos nas notícias.

Mais um ano em que lamentamos a área ardida, choramos com as perdas, criticamos quem não limpa as matas e enaltecemos o trabalho dos bombeiros, da proteção civil e dos cidadãos.

Neste momento de aperto, questiono onde andam os nossos Excelentíssimos Governantes e Ministros?

Face às previsões meteorológicas e ao consequente aumento do risco de incêndio rural, o Governo decretou situação de contingência para todo o território continental. Certo, o imediato acionamento de todos os planos de emergência e proteção civil é prioritário.

E o apoio a todas as vítimas dos incêndios? E o incentivo de medidas estruturais para prevenir este tipo de situações? Não aprendemos nada com a situação de Pedrogão Grande em 2017?

Quando questionado se o Estado cobriria potenciais prejuízos decorrentes destas decisões, o Primeiro-Ministro afirmou prontamente: "O Estado não é uma seguradora universal!"

Devo confessar que fiquei incrédula com esta afirmação. Sempre pensei que uma das funções do Estado seria "(…) promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo (…)." Ou apoiar a "(…) cobertura de riscos resultantes dos acidentes climatéricos e fitopatológicos imprevisíveis ou incontroláveis."

Se não tivermos o apoio do Estado, então a quem devemos recorrer? Habitantes que perderam tudo com o fogo poderão ter o apoio do Estado? Ou irá acontecer o mesmo que em Pedrogão Grande, em que habitantes morreram sem verem as suas moradias construídas?! Isto porque a justiça no Estado Português é lenta?

Esta moda do "plano de contingência" é apenas um meio demasiado conveniente para os poderes públicos escaparem das suas responsabilidades e compensarem falhas, sem nunca precisarem de enfrentar os graves problemas frente a frente. O "plano de contingência" não pode ser sempre a única solução para todas as emergências que ocorram em Portugal.

Sim, a cautela deverá ser assegurada pelos portugueses e não unicamente pelo Estado. Mas o Estado não pode fugir das suas responsabilidades no que toca à desorganização e dispersão de meios, de abandono e desprezo pelo mundo rural, pelo interior e pela floresta, ou pela desvalorização da pequena e média agricultura e pastorícia. O Estado tem a obrigação de INTERVIR!!

O momento atual é de combate aos incêndios que estão ativos e de demonstrar solidariedade para com as vítimas e com os operacionais que estão no terreno. Face a uma tragédia destas dimensões é preciso perceber desde já que os incêndios-catástrofe não são uma fatalidade, mas sim parte das escolhas políticas e económicas que o país faz!

Necessitamos de medidas e ações num curto prazo, para que não aconteçam mais catástrofes no médio e longo prazo. Como em tudo na vida, viveremos com as decisões que tomarmos!

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