No início do século XIX apenas 2-3% da população residia em cidades. Em 1900, esse número chegou aos 5% para, a meio do século XX, estabelecer-se nos 30%. Em 2007, mais de metade da população mundial vivia em cidades, um número que continua a crescer porque todos os anos chegam às cidades centenas de milhares de novos habitantes.
O modo como as cidades se foram disseminando na geografia, revela as mudanças de poder. No início do século XX, 9 das 10 maiores cidades ficavam na Europa ou nos EUA. Mas nessa época, a Europa tinha 18% da população mundial. Hoje não tem 10%.
Em 1950, as únicas cidades com mais de 10 milhões de habitantes foram Nova Iorque e Tóquio. Em 1975, surgiu a Cidade do México. Em 2016, um estudo da ONU mostrou haver 512 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, 45 delas com mais de 5 milhões e 31 com mais de 10 milhões. Mas no fim do século XX contavam-se já 18 megacidades e, 20 anos depois, o número era 35.
A localização mostra a queda da Europa e a ascensão do resto: 20 dessas megacidades estavam na Ásia, 3 na Europa, 3 em África, 6 na América Latina e 2 nos EUA. Até ao ano de 2030, prevê-se o surgimento de 10 novas megacidades: 6 na Ásia, 3 em África, 1 na América do Sul e nenhuma na Europa ou EUA.
Em 2025, metade do PIB global deverá ser da responsabilidade de um conjunto de cidades com uma população a rondar os 600 milhões de indivíduos, ou cerca de 7% da população mundial. Para se perceber o alcance, Moscovo, Joanesburgo e São Paulo produzem hoje entre um terço e metade da riqueza total dos seus países. Lagos garante 60% da indústria e comércio da Nigéria, com uma população de apenas 10%. E na China, 40% da riqueza advém das três maiores áreas urbanas.
Estes dados estão todos nos livros de Ben Wilson ("Metrópoles"), de Fareed Zakaria ("Dez lições para um mundo pós-pandemia") ou de Vaclav Smil ("Os números não mentem").
Perante este panorama, não custa entender o peso económico, cultural e social das cidades e que o seu papel no mundo é crescente. A cidade continua a ser o pólo de atracção dos mais novos porque o Centro, onde há outras oportunidades, continua a atrair a Periferia. Quem está longe, quer vir para perto.
Logo, à escala regional, é natural a atracção do norte da Ilha pelo sul onde há mais gente e oportunidades. Tal como é natural o interior ser atraído para o litoral ou o ilhéu querer galgar o mar e ganhar horizontes. Portanto, a desertificação é uma realidade e o problema é provavelmente mais de escala, do que de dinheiro, apesar dos incentivos bem-intencionados e positivos para atrair e fixar gente, haver mais bebés e estimular as empresas.
Talvez assim se contribua para uma potencial discussão - pensada e ponderada, envolvendo seriedade e sem fanatismos - sobre se a actual divisão administrativa regional é a ideal para responder aos desafios do presente, depois da transformação incrível que a Autonomia e a Social-democracia trouxeram à Madeira.
Não sei se há vantagens irrecusáveis e imediatas em juntar ou fundir cidades, concelhos e/ou freguesias. Mas sei que pode ser possível dar-lhes mais relevância política e competência social, mais peso demográfico, mais capacidade orçamental e financeira.
Vale a pena a Região manter 11 concelhos e 54 freguesias? Também não sei, mas se o caminho for ganhar escala e procurar uma alternativa credível e sincera que caucione meios com outra grandeza e dignidade, talvez não valha.
Num tempo em que a Região tem dois terços do seu território protegido (logo, praticamente intocável); num momento em que a tecnologia, as comunicações e as acessibilidades "encolheram" o mundo (e a Região); e numa era em que países e regiões inteiras se unem por propósitos e objectivos comuns, a união pode mesmo fazer a força. Porque melhor do que dividir, pode ser agregar.