Em Santana foi assim durante muitos anos. Nessa altura constituía uma boa fonte de rendimento para muitas famílias.
Ainda apanhei a parte final desta atividade.
Ainda me recordo de assistir a tudo o que envolvia a operação do cultivo dos vimes. Desde a plantação, passando pelo cuidar ao longo do ano, pela poda dos vimes, pelo transporte e pela cozedura.
Em Santana nos campos havia muitas áreas dedicadas a esta plantação. Eram sobretudo em zonas mais húmidas onde a água abundava.
Os vimeiros eram cuidados como outra plantação qualquer. Eram mondados, adubados e regados com frequência. Lembro-me de andar pelo meio da plantação na altura da poda dos vimes, mas também nas alturas que eram mondados.
Quando os vimes estavam a meia altura ainda em fase de crescimento, era frequente andarmos pelo meio da plantação à procura de ninhos de pássaro. Os melros-pretos, gostavam muitos dos vimeiros para fazerem os seus ninhos. Mas também havia outros. Claro que se o dono chegasse tínhamos de fugir a "sete pés".
Durante a poda eram vários os homens que procediam a essa operação. Os vimes eram cortados e colocados no chão. Eram separados em função do seu tamanho. Depois eram amarrados em molhos que depois eram transportados às costas até ao sítio mais próximo onde um carro de carga os aguardava.
Enquanto criança, lembro-me de andar depois pelas zonas onde os vimes foram podados, a juntar os mais pequenos. Fazíamos pequenos molhos com esses " restos" que depois até vendíamos.
Havia empresários locais que compravam os vimes aos diversos produtores.
Criavam uma espécie de estaleiro, onde era montado um caldeiro gigante onde os vimes eram cozidos para depois serem descascados. A operação de tirar a casca era uma tarefa quase que exclusiva das mulheres. Era um trabalho duro. Sentavam-se ali nas redondezas do caldeiro. À medida que iam tirando as cascas àquelas varas, havia alguém que ia recolhendo já descascados e colocando novos molhos cozidos.
As mulheres passavam ali várias horas sentadas, fizesse sol, frio, ou até chuva. Era visível o seu cansaço e a forma como ficavam com as mãos bastante escuras e por vezes rebentadas de tanto trabalhar.
Havia também outra forma de tirar a casca aos vimes que passava pela sua colocação em água corrente nas levadas. Com esta técnica os vimes ficavam mais claros em contraste com a cor acastanhada dos que passavam pela cozedura.
Os vimes depois de descascados eram distribuídos pelas redondezas onde ficavam durante vários dias a secar. As bermas da estrada eram muito utilizadas para esse fim. Recordo-me dessas imagens que provocavam um efeito espetacular na paisagem.
Depois de secos eram armazenados e muitos deles seguiam logo em direção à freguesia da Camacha para a famosa "obra-de-vime´´. Era aqui que eram transformados em peças de artesanato que ainda podem ser apreciadas em muitos lados. O carregamento e o transporte em camiões, também era uma operação que gerava sempre algum aparato. A forma de carregar um carro desses obrigava a algum engenho.
Durante muito tempo, sobretudo no norte da Madeira esta atividade constituía uma boa fonte de rendimento para muitas famílias. Para os que cultivavam, mas também para a mão-de-obra que era necessária até que o vime depois de seco seguisse o seu destino final.
Com o andar dos tempos, esta, tal como outras atividades perdeu-se.
Era com esta matéria-prima que faziam cestos e outros artefactos. O vime também era usado na cobertura das casas de colmo. Era usado para amarrar as varas que seguravam o colmo das casas típicas de Santana.
Mas o vime ainda tinha outra utilização, porventura da que tenho menos razões para recordar, mas que acontecia. Ainda sou do tempo em que se levava umas ‘’vimeadas’’ como forma de castigo físico (levar com um vime nas pernas) quando nos portávamos mal.
Também cheguei a ver o homem que vendia peixe na minha zona em enfiar cavalas, chicharros, ou até mesmo postas de atum enfiadas num vime. À falta de sacos de plástico, não deixava de ser uma boa solução para transportar pequenas quantidades de peixe.