A pergunta que faz o título não tem destinatário definido. Não é para ninguém em particular. Não é especialmente para os poderes nem para as oposições. É para todos.
A pergunta que faz o título é para si: quanto vale, para si, a informação?
Falamos da informação credível, embora não imune a falhas e erros. Mas com autores identificados. Feita por jornalistas com carteira profissional. Publicada em órgãos de comunicação social com estatuto editorial. Com direitos e deveres num mundo cada vez mais competitivo.
É dessa informação que se fala. É de informação que cruza factos.
Que obedece a regras.
Que se rege por um código deontológico.
Que assina com nome profissional.
Que dá a cara pelo que escreve.
Que pergunta, uma e outra vez.
Que investiga.
Que incomoda.
Que muitas vezes não agrada aos políticos.
Que deixa os agentes económicos de pé atrás.
Que questiona o dirigismo desportivo.
Que deixa outros protagonistas desconfiados.
A informação de que aqui se fala é feita destes ingredientes.
Nos últimos anos, esta forma de fazer jornalismo conheceu outros canais. Vieram com o desenvolvimento tecnológico e com as redes sociais.
Alguns órgãos de comunicação social – e mesmo reputados jornalistas – caíram no engodo. Deixaram-se levar até pela ideia romântica do jornalista-cidadão e abriram a porta à teoria inquinada de que qualquer cidadão pode ser jornalista.
Não pode.
Qualquer cidadão deve participar ativamente na sociedade e usar as redes sociais, os blogues e outras formas de fazer passar a sua mensagem, a sua ideia, a sua preocupação, a sua denúncia pública. Algumas dessas publicações serão mesmo importantes. Mas isso não é jornalismo.
Não basta ter uma rede social e saber escrever para fazer notícias. Isso que fazem – muitas vezes de forma anónima, outras em jeito de palpite – são tudo menos notícias. São palpites, são comentários, curiosidades.
E depois há os incautos que consomem essa informação como certa. Que partilham sem cuidar de perceber se aquilo que leram e até recomendaram corresponde à verdade ou não.
Seguem esses textos em jeito de prova de fé, como pequena vingança ou até mesmo sob a forma de curiosidade simples. Mas validam.
Voltamos à questão inicial: será isso informação?
Claro que não. São palpites, são comentários, curiosidades. Interessam, certamente, a alguém em algum momento. Mas não informam com regras claras a maioria dos cidadãos, nem empresas, nem governos, nem sequer oposições. São, todos eles, alvos simples da fúria de corajosos anónimos que dão o texto e escondem a mão.
Isso é a bilhardice em roda livre.
Então quanto vale a informação?
Da nossa parte, repete-se uma ideia já dita e escrita: a informação credível é um bem essencial. E os bens essenciais precisam de regras, mesmo num mercado livre e de condições mínimas para a sua sobrevivência. Mas também precisam de estabilidade financeira num mercado que passa por uma grande volatilidade.
O diagnóstico das empresas de comunicação social é conhecido no setor e junto das entidades públicas. Já era assim com os meios de alcance local e regional, mas esse quadro ganhou maior visibilidade com a tempestade que se abateu sobre órgãos de dimensão nacional.
Essa tragédia abriu a porta ao debate. Perante o naufrágio anunciado e quase concretizado, saltaram ideias. E fica claro que há um conjunto de soluções que se podem traduzir em mecanismos fundamentais para o exercício livre da atividade.
Propostas como o IVA 0, a distribuição gratuita dos conteúdos da Agência Lusa, o incentivo às assinaturas públicas ou deduções fiscais a quem consome informação estão em cima da mesa em todo o País.
Do debate nacional, começam a ser apontados os exemplos que existem na Madeira e nos Açores, embora com naturais necessidades de revisão e adaptação. Talvez seja este o momento de as ilhas voltarem a inovar e chegar primeiro a um modelo que, inevitavelmente, vai fazer caminho no País inteiro.
Quanto vale a informação?
A pergunta não é para ninguém em especial. É para todos. É para si.