Desde muito pequenina que sempre quis ser Advogada, acalentava o desejo de encontrar soluções para os conflitos, de argumentar, de demonstrar que há outro caminho e, acima de tudo, de auxiliar quem está mais fragilizado.
Na escola sempre me disseram, “a Paulinha deve ser médica, deve ir para medicina, pois é muito boa aluna”.
A verdade é que o gosto, o amor, pela palavra, pela retórica, pelo estudo da arte do direito, pela procura da justiça, pela política, em que se almeja o bem comum, sempre, guiaram a minha vida.
Neste caminho da humanidade, em que diariamente aprendo com todas as pessoas que vou encontrando, nos mais variados contextos e situações, não posso deixar de dirigir um olhar muito especial para as mulheres que marcaram e continuam a marcar o meu percurso. A avozinha, a mãe, as tias, as primas, as amigas e aquelas senhoras com quem simplesmente troco olhares nas soleiras dos instantes, ensinam-nos, tal como o Papa Francisco o refere, que as mulheres são, também, a chave para transformar o país, o mundo! Mas, infelizmente, parece que o mundo, a sociedade, ainda, não lhes reconheceu esse papel transformador.
Há dias uma grande amiga, em conversa, deu-me conta que se sentiu confrangida pelo facto de no auxílio aos miúdos, com os trabalhos de casa, ter conseguido encontrar com os mesmos a solução que o pai horas antes não havia encontrado. E disse-me: - “Sabes devia ter dito ao pai o que considerava mais adequado para que depois juntos (o pai e os miúdos) encontrassem, então, a resposta”. Já outra pessoa que muito estimo referiu: - “Tu já viste que as senhoras têm quase sempre carros com menos atributos do que os carros dos senhores?”.
Efetivamente, nestes dois simples exemplos, vislumbramos uma tendência para sobrepor o papel do homem ao papel da mulher, quando ambos, ainda que de modo diferente, são tão necessários ao desenvolvimento da sociedade, do mundo. Daí que à minha amiga nem lhe pareça bem alcançar mais rapidamente que o marido a solução para os desafios escolares dos miúdos. E o homem deve ter um carro melhor do que o da mulher, somente porque é homem.
Infelizmente outros exemplos vão acontecendo, nomeadamente o que se verificou no pretérito dia 10 de março em que naquele dia foram eleitas para a Assembleia da República, apenas, 77 mulheres num total de 226 parlamentares. Logo, estarão, assim, na Assembleia da República menos 8 mulheres do que em 2022.
Por que motivo as mulheres, que nas empresas correspondem a metade da força de trabalho e ainda representam apenas 31% dos lugares nos conselhos de administração e 6% dos lugares de Chief Executive Officer? Por que motivo não existem mais mulheres como cabeças-de lista nos partidos políticos que se apresentam a eleições? Por que motivo hoje são poucas as mulheres que alcançam cargos de topo na carreira política?
Na história da democracia portuguesa tivemos, apenas, uma mulher como Primeira-Ministra, Maria de Lourdes Pintasilgo, no período de 1979/1980, e uma mulher como Presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e no período de 2011/2015, e que bem que souberam transformar e tratar com lucidez os assuntos que tocaram.
Existe, assim, um longo caminho a percorrer para que possamos transformar, profundamente, a mentalidade de uma sociedade que não pode continuar a responder “sabe estão aqui poucas mulheres, nesta sessão de esclarecimentos, pois esta é uma hora em que estão em casa a preparar o jantar e a dar o banho aos miúdos”.
Tudo e todos são importantes e quero tanto, Alice e Laura, que saibam que a vossa condição feminina não será motivo para não alcançarem os cargos que venham a merecer, pela vossa competência, pela vossa dedicação!
Continuem a sonhar, meninas e mulheres do nosso país, para que um dia possam tocar a estrela da igualdade de oportunidades entre o homem e a mulher.
Trabalharei, arduamente, para que a hora mágica possa chegar.