Em 2018, o Governo de Cabo Verde instituiu o dia 3 de dezembro como o Dia Nacional da Morna, pouco tempo antes da entrega à UNESCO da candidatura da morna, tendo aprovação em dezembro de 2019, passando assim a integrar a Lista Representativa do Património Imaterial. A data assinala o nascimento de B. Léza, no ano de 1905. Razão essa pela escolha da mesma.
Considerado um dos maiores célebres compositores cabo-verdianos, pioneiro no uso do meio tom brasileiro, agora conhecido por acorde de passagem, estabeleceu um marco na evolução da morna, sendo assim, esta uma das suas grandes contribuições para a História da Música de Cabo Verde, contribuição esta apontada como sendo uma influência da música brasileira. Tinha contacto frequente com estas influências, fruto das frequentes escalas marítimas no Porto Grande.
Nos anos 30, B. Léza é já um compositor consagrado, figura extremamente popular. Em 1940 visita Portugal e participa na Exposição do Mundo Português, liderando um grupo de cinco músicos. No final da exposição os seus companheiros regressam a Cabo Verde, ficando B. Léza hospitalizado em Lisboa devido a problemas ortopédicos graves. Dois anos mais tarde é operado e é nessa altura que conhece Maria Luísa, uma enfermeira com que acabou por se casar.
Vítima de uma tuberculose óssea, é apenas em 1945 que regressa a S. Vicente, numa cadeira de rodas. São desse período em Portugal as conhecidas mornas Ondas Sagradas do Tejo e Terra Longe. As suas músicas começaram a ser gravadas no início dos anos 50, altura em que o compositor levava uma vida ensombrada pela sua doença e pelo álcool, que não impediram (se é que não inspiraram...) algumas das suas mais belas composições. Foi a partir dos anos 50, com a gravação das suas composições em disco que se torna um mito.
O legado de B. Léza não se ficou pela morna... passa igualmente por koladeras, marchas de carnaval e sambas.
As suas mornas ficaram conhecidas em muitas partes do mundo pela voz da conceituada Cesária Évora, e o sucesso internacional desta artista deve muito às criações de B.Léza.
Deixou igualmente bonitos poemas e alguns textos em prosa.
Recentemente foi lançado pela editora portuguesa Tradisom, um disco com a voz do compositor a cantar, sendo acompanhado por Luís Rendall. Estas gravações foram realizadas no início dos anos 50 e agora deliciam os apreciadores da morna, espalhados um pouco por todo o mundo.
E de onde surge este interessante pseudónimo? Um pseudónimo costuma ser dotado de significado para quem o adota. Novo, apaixonou-se por uma linda donzela de S. Filipe: uma das filhas mais novas do conhecido armador e capitão Diédié de nh’Antóni. De nome Raquel, era tão bonita que era conhecida por "Beleza". De casamento marcado, Francisco Xavier era funcionário dos CTT e teve um rombo nos cofres. O futuro sogro encobriu a situação, evitando assim um escândalo em redor do noivo da filha. O caso foi assim abafado. Contudo, Francisco Xavier acabou por ser transferido o que, por força da distância, fez com que a relação sucumbisse. Em homenagem a esse grande amor, Francisco Xavier adotou o pseudónimo de B. Léza.
Romântico por natureza, diz também a lenda que mesmo já muito debilitado, antes da sua morte, muitas pessoas iam ter com o mestre hospitalizado para lhe pedir uma carta para a pessoa amada, para uma serenata ou para assinalar um acontecimento.
Envolto numa bonita história de vida, o compositor deixa assim um legado valiosíssimo na história da música e da cultura cabo verdiana.