E não deixo de assinalar que logo nas primeiras projeções de domingo três forças políticas se disponibilizaram, sem qualquer subtileza, para um acordo com a coligação que teve a maioria parlamentar. Nada que nos devesse surpreender, quem não tem ainda presente o CDS que depois de décadas de oposição feroz ao PSD-Madeira, se "vendeu" na primeira oportunidade por dezenas (centenas?) cargos (as gamelas tão apetecíveis a quem está a política para se promover e dela beneficiar mesmo que se corrompa nos princípios, mesmo que se anule ideologicamente e até que se esfume partidariamente…) no arco do poder administrativo regional. Não é só relutância o que causam este tipo de ações e comportamentos políticos, é tristeza mesmo por nos depararmos com protagonistas cuja demagogia ou populismo é tão gritante: propalam a defesa das populações da Madeira que - e isto é evidente, até pela lamentável taxa de abstenção - tem pensado nos últimos 47 anos com os ainda vigentes senhorios da Madeira. Os tais senhorios que detêm a maior riqueza e que quando não condenam a população à miséria atiram-lhes migalhas de subsídios e caridadezinha - além de muitas promessas, sobretudo em tempo de eleições- mas que são incapazes (nem vontade têm de o fazer) de empreender políticas de raiz, corajosas e futuristas para debelar, a exemplo, a maior taxa de risco de pobreza e a maior taxa de abandono escolar precoce do país. E neste último ponto, como não o interpretar também à luz da falta de investimento na cultura, na região? (não me refiro à cultura de arraiais ou àquela só "inglês ver", que essa prolifera, e muito, por cá numa expressão populista com aproveitamento político que chega a constranger).
Neste lamaçal político - para mais agora com a entrada da extrema-direita no parlamento regional - sobressaem ainda alguns políticos que não são venais, que se empenham em causas, que se documentam para discutir matérias essenciais à região e à sua população, que não enriqueceram com a política, que não perderam o foco da sua função: estar ao serviço da pólis, e não se servir a si mesmo e quejandos. Há políticos que ganhem ou percam nas urnas, continuam, abnegadamente, a lutar e a trabalhar por melhores condições de vida dos madeirenses e portossantenses, sem promessas para além da entrega às causas que os norteiam - causas, sobretudo de justiça social, que, claramente, tem falhado num arquipélago onde as desigualdades sociais são flagrantes e cada vez mais indisfarçáveis.
Felizmente, para a região e para as suas gentes, estes políticos - que todos os dias se empenham na sua melhoria de vida - não é só nas campanhas eleitorais que as contactam entre "beijinhos e canetas e camisolas" - é durante todo o ano que as ouvem, que as defendem, que dão a cara pelas suas dificuldades e necessidades num trabalho contínuo e de uma dignidade única entre nós que nem sempre é valorizado, sobretudo nas urnas... Mas foi-o desta vez: a CDU cresceu em todos os concelhos e freguesias, em percentagem e votantes, tendo mesmo duplicado, em alguns, estes indicadores. Como disse Edgar Silva, ironicamente, na sua declaração na noite eleitoral: quem vaticinou o velório da CDU-Madeira, enganou-se redondamente. Porque há políticos que não se preocupam com a escalada do poder, escalada social ou financeira, pessoal, mas antes com uma região inteira, cujo nome "por esse mundo além continua e onde além-fronteiras (e dentro delas) dela se mostram orgulhosos".