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Artigo de Opinião

Advogada

8/02/2023 08:00

Quantas e quantas vezes constatei que a fragilidade de uma determinada pessoa se transformou na sua maior força. Na verdade, essa dita fragilidade empoderou-a, fazendo brilhar o seu dom que pôs a render e que tantos frutos deu.

A sociedade hodierna, e bem, tende a atribuir direitos aos mais ostracizados, aos mais discriminados e no caso das mulheres atribuiu-lhes "quotas", quer ao nível do pessoal dirigente e nos órgãos da Administração Pública, quer nos órgãos de Administração e de Fiscalização das Entidades do sector público empresarial e das empresas cotadas em bolsa, para que se possa verificar um regime de representação equilibrada entre homens e mulheres.

Nesta matéria da igualdade do género, Portugal, não obstante continuar a fazer caminho, mantém-se abaixo da média da União Europeia e a mentalidade teima em persistir.

Há dias numa conversa, em que se estava a tentar perceber qual seria a pessoa adequada para enfrentar um determinado processo e em que foi sugerido o nome de uma senhora, ouvi a resposta seguinte: "não…, para esse assunto tem que ser um homem, pois do outro lado temos alguém muito firme e, por isso, não pode ser uma mulher …"!

Como devem imaginar fiquei surpreendida com este tipo de comentário, vindo de uma pessoa esclarecida, da classe média alta que, infelizmente, ainda, não percebeu que tanto é firme uma mulher como um homem e que tanto é fraco um homem como uma mulher. A firmeza ou a fraqueza não está no género, antes nas características que apresentam que são fruto das suas circunstâncias e que o "abraço humilde à vida" faz alcançar que até estas não limitam a vida de cada pessoa.

O triste episódio acima relatado é fruto de uma mentalidade, subtil é certa, mas que persiste e que urge ultrapassar. Como? Recordemos a história do velho monge que pretendia alcançar o cimo de uma montanha e que numa das suas etapas pernoitou numa estalagem.

Ora, tendo o estalajadeiro reparado na sua fragilidade tentou demovê-lo de tal façanha, mas o monge respondeu: "Tenho a certeza de que chagarei lá." "E como é que um homem fraco como tu pode ter semelhante certeza? Para mais, vem aí um inverno duro." Então, o monge disse: "Coloquei lá em cima o meu coração e por isso sei que, mesmo assim inseguros, os meus passos hão de chegar lá".

A Alice e a Laura, filhas, têm sido autênticos tesouros de ensinamento em matéria de igualdade do género, de aceitação do que é diferente e igualmente digno. E com elas tenho desbravado o caminho da compreensão desde mundo que tantas vezes é difícil para quem é mulher, para quem apresenta fragilidades, designadamente necessidades especiais, para quem não tem possibilidades de se fazer ouvir, porquanto vive num meio socioeconómico mais desfavorecido…, mas com o coração, e com total entrega, será possível continuar a fazer caminho que nos levará a uma sociedade mais justa, mais equilibrada. E para tanto em momento algum poderemos desperdiçar os dons que cada um possui, seja homem, ou mulher, preto ou branco, da Madeira ou da Pampilhosa da Serra...!

Que, assim, humildemente "aprendamos a agradecer o amor que nos esvazia as mãos e ao mesmo tempo as deixa iluminadas, como talvez antes nunca as vimos".

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