Também vão surgindo situações de menor tolerância para quem pensa de forma diferente da nossa, considerando que essa forma de pensar, diferente da minha, é necessariamente contra mim ou contra alguém que me acompanha. Surgem dificuldades em criar pontes de contacto que nos fazem evoluir, que nos fazem crescer.
Numa sociedade em que tudo parece reduzir-se a números, a luzes que apenas nos trazem uma aparência da realidade, facilmente esquecemos o que não se compra, o que não se vende.
E o que é que não se compra, nem se vende? O tempo…, aquele tempo que dedicamos ao outro, ao trabalho que é feito sem esperar outra coisa que não seja dar o melhor de nós no pouco que fazemos… e se deste trabalho surgir o lucro, excelente…, mas lucro que surgiu de um trabalho sério, íntegro em que não houve mentiras, nem falsidades, nem estratégias ilídimas e em que contámos com todos, com aqueles que se preocupam, sobretudo, em fazer acontecer e já nem tanto em aparecer.
Tenho alguma dificuldade em compreender como é que há pessoas que conseguem dormir sabendo que causaram sofrimento ao outro, que o fizeram chorar, que o humilharam.
Ninguém é perfeito, bem o sei! Mas, numa equipa, numa família, quando magoamos o outro, ou quando alguém se sente magoado com o nosso comportamento, urge lobrigar o que esteve menos bem, fazer perceber o nosso ponto de vista e pedir desculpa (s) se necessário for.
O Papa Francisco na Audiência Geral de 13 de maio de 2015, bem conhecendo a natureza humana, disse-nos que muitas vezes "voam pratos", mas que nunca devemos terminar o dia sem fazer as pazes e que numa família (numa empresa, na política, no viver em sociedade - digo eu) há três palavras - chave: "com licença", "obrigado" e "desculpa". E, por favor, não me digam que estas três palavras não se aplicam à política, aos políticos, porquanto a política é mesmo assim, bem como às empresas e aos empresários!
O Papa João Paulo II a 12 de março de 2000 pede desculpas pelos erros cometidos pela Igreja ao longo dos últimos 2000 anos. Em março deste ano a Chanceler Angela Merkel, num tremendo sinal de humildade, pede, publicamente, desculpa aos alemães pelo "erro" de ter inicialmente decretado o confinamento durante a Páscoa. Já no infeliz episódio do "Sofa Gate", ocorrido no pretérito mês de abril, o senhor Presidente do Conselho Europeu (Charles Michel) pediu, solenemente, desculpa à senhora Presidente da Comissão Europeia (Ursula Von der Leyen) pela falta de reação ao "desplante" diplomático protagonizado por Ancara.
Ora, numa época em que todos andamos tão cheios de nós, e em que se assiste ao regresso de uns quantos líderes autoritárias e infalíveis, os pedidos de desculpas dos líderes religiosos e europeus são sinais de humildade que constituem uma luz de esperança numa sociedade que se pretende transparente, justa, feita por homens e mulheres mansos e pacientes que procuram o bem comum e não o seu próprio interesse.
Que nunca deixemos de sonhar com um amanhã mais transparente, mais justo e tenhamos a ousadia de "projetar utopias que nos fazem caminhar e que, quando derrotados, nos fazem retomar a caminhada."