É esta a sensação que fica após o que aconteceu na noite eleitoral do dia 23 de março. Não se votou na estabilidade, ao contrário do que se tenta vender, votou-se novamente em maiorias absolutas. Foi a conta certa: 23 deputados/as a precisar apenas de 1, e claro está, facilmente entra o CDS. Sai o PAN, não entra nem PCP nem Bloco, nem qualquer outra força ou coligação. A única coisa expectável, independentemente do que aparecia nas sondagens, era efetivamente a perda de lugares do PS e o crescimento do JPP ao ponto de se tornar a maior força de oposição da Madeira.
Passou uma semana, e todos deveríamos ter refletido sobre a ainda elevada taxa de abstenção, sobre o cansaço da população e sobre a falta de literacia política. Espero que um dia tenhamos a capacidade de entender que os partidos não partem em pé de igualdade para as campanhas eleitorais e, por muito que se queira desvalorizar, este é um fator importante. Perdeu a democracia quando perde a pluralidade de partidos; perdem os jovens, que estão menos representados; perdem as mulheres, que continuam a não ter o espaço devido na casa onde se tomam decisões sobre as suas vidas; e perdem as causas, porque, por muito que acusem o PAN de nada ter feito, o trabalho parlamentar comprova que fomos os únicos a apresentar propostas em prol dos mesmos.
E não só apresentamos diplomas sobre animais, como foram 86 medidas no programa de governo, 9 delas na causa animal, e todo o restante pelas pessoas e pela natureza. O PAN saiu, mas o trabalho continua. Espero que se tenha, pelo menos, aprendido algo no meio de tudo isto: a importância do diálogo, mesmo com maiorias, e de negociação de propostas em prol da população. Que este novo governo venha com um lado mais humano, ético e rigoroso na execução das suas funções. Que na educação, a base disto tudo, se comece a desmistificar o trabalho de um deputado, a valorizar mais o trabalho parlamentar e a dar a conhecer as propostas, atribuindo os louros a quem realmente trabalhou e não apenas a quem aparece na fotografia.
É preciso que quem lá está honre o seu lugar. Precisamos de aproximar as pessoas ao parlamento, e não é apenas através das redes sociais, mas com a execução dos cargos com seriedade e responsabilidade. A vida continua e as escolhas foram feitas. Quanto ao PAN, para infelicidade de alguns, o partido não desaparece. Não estamos na Assembleia, mas seguimos juntos pelas causas que nos unem. E enquanto houver pessoas, enquanto houver animais e enquanto houver natureza, o PAN continuará. Continuaremos atentos ao trabalho executivo e parlamentar. Estaremos empenhados em contribuir para uma sociedade progressista, com propostas e críticas construtivas. Seguimos ao lado das pessoas a dar-lhes voz como fizemos até aqui.
A política não se faz apenas no parlamento, ela está em todas as decisões que tomamos no nosso dia a dia. Todos nós somos políticos, mesmo que não sejamos de nenhum partido. E como a política é mais do que partidos e eleições, é fundamental a participação ativa de todos nós na construção de um futuro mais justo e sustentável. Participar em marchas, criar petições, proporcionar momentos de debate e reflexão, usar as redes para cativar, educar e mobilizar. Não permitir a violência nas caixas de comentários. Acompanhar o trabalho parlamentar, analisar, avaliar e criticar para depois decidir.
A democracia e a diversidade de vozes não são um luxo, mas um direito. Não podemos permitir que essas vozes sejam silenciadas; é responsabilidade de todos nós contribuir para um mundo mais justo, verde e inclusivo. Eu continuarei a trilhar esse caminho, como fiz até aqui. Sigo com esperança de que encontraremos o caminho e, com respeito, trabalharemos para garantir um futuro.