Depois de amanhã é a antevéspera do Ano Novo.
Nestes últimos dias do ano, em que marcamos as fronteiras do calendário e por vezes conseguimos parar um pouco para pensar é costume fazer balanços. Podem ser pessoais, regionais, nacionais, europeus e globais, em áreas tão diversas, como a economia, a cultura, o desporto, o social ou a política. Nessas e noutras, escolhemos as figuras que mais se destacaram nos últimos meses e lamentamos a partida de pessoas com quem sentimos afinidade por ligações familiares, de amizade, de admiração ou de inspiração.
O passo seguinte é fazer as também habituais previsões ou projeções, que muitas vezes oscilam entre os pesadelos mais negros, de um pessimismo catastrofista, e os sonhos mais coloridos, fruto dos desejos mais otimistas, ambos mais ou menos nas mesmas áreas.
É comum ouvirmos, pensarmos ou dizermos que vivemos tempos incertos e imprevisíveis e o ano que está quase a terminar foi rico nesse campo.
Para começar agravou-se o clima de incerteza e de insegurança globais. Neste momento assistimos a duas guerras brutais que nos parecem mais próximas do que outras que decorrem há anos noutras paragens.
Na Ucrânia estamos a dois meses de entrar no quarto ano de conflito, cada vez mais intenso.
No médio oriente, Israel, cada vez mais confiante na cobertura, na ONU, por parte dos EUA, continua numa onda expansionista e depois de Gaza e da Cisjordânia entrou no Líbano e Síria e atacou posições no Irão e Iémen. Se a curto prazo estas ações preventivas podem até ter algum sucesso em termos de redução da capacidade militar hostil, a médio/longo prazo é provável que esteja a lançar as sementes para a radicalização de mais gerações até agora moderadas. A hiperagressividade a passar demasiadas vezes as linhas da crueldade (como aliás afirmou o Papa Francisco) vai desbastando muito do capital de solidariedade para com Israel, mesmo entre europeus e norte-americanos.
Em temos políticos começámos com eleições legislativas regionais nos Açores e legislativas Nacionais anunciadas para março. Na Madeira o governo demitiu-se na sequência de uma investigação policial por suspeitas de corrupção que envolveu meio governo e levou também à demissão do Presidente da Câmara do Funchal, que levaram a novas eleições regionais em maio. Das eleições surgiram três minorias absolutas do mesmo partido.
No continente a escolha do governo minoritário foi procurar consensos alargados, principalmente ao centro, como forma de conseguir fazer aprovar um orçamento e governar em minoria procurando ter tempo para consolidar uma aura de poder.
Nas duas regiões autónomas, a opção foi procurar apoios à direita, cedendo em nome do pragmatismo em pontos que se parecem perigosamente com o sacrifício de valores das social-democracias.
Na Europa houve eleições para o Parlamento Europeu, uma nova Comissão Europeia e um novo Conselho Europeu, com um reforço da votação dos partidos antieuropeístas, principalmente na área da direita radical. O crescimento deste tipo de partidos é fruto de uma estratégia global, financiada em boa parte por capitais de origem duvidosa e por estados autocráticos interessados em minar as democracias.
Também nos EUA, a vitória dos republicanos, com um discurso muito mais radical do que há oito anos, não augura bons sinais para a economia e segurança globais. O Mundo parece mais perigoso hoje do que há um ano. Ainda assim sinto-me curioso em relação ao futuro, mesmo que menos otimista.
Quando a curiosidade levou Pandora a abrir a proverbial caixa, soltando todos os males no Mundo, e a tentou fechar de imediato, só restou a Esperança no fundo. É o que também nos resta, agora.
Mas não consigo deixar de me interrogar:
Por que razão estava a Esperança guardada com todos os Males do Mundo?