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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

26/02/2024 04:00

Numa altura em que se vê injustiças por todo o lado, resolvi escrever sobre aquilo que mais me inquieta: corrupção. O que é corrupção? Define-se como a prática de atos ou condutas fraudulentas praticadas por quem está no poder, tipicamente envolvendo subornos.

A corrupção é uma das maiores pragas que afeta uma sociedade. Cria desigualdades entre cidadãos de primeira e de segunda. Ou seja: de um lado estão aqueles que pertencem àquela elite de poder e os seus acólitos que tem possibilidades financeiras para viver no bem bom, que conseguem com grande facilidade tudo o que querem: posições, autorizações, licenças, acessos... e obtém tudo de forma rápida e eficaz, recorrendo à bela da cunha para obter vantagens ilícitas. Do outro lado, temos toda a vasta camada da população que trabalha e luta todos os dias, sem ter acesso a estas “benesses”, vantajosas e enriquecedoras de quem delas beneficia, por falta de dinheiro ou por posição ética e valores pessoais. Tudo aquilo que conseguem é à custa do seu próprio suor e isso sim é que é de valor.

Portugal foi, uma vez mais, noticiado pelos piores motivos, pelo facto de ter piorado a posição relativa no ranking dos países mais corruptos do mundo. Esta é a sociedade em que vivemos: num país onde a corrupção funciona em rede e é aceite por todos. Uma sociedade que aumenta o custo operacional do país, empobrece e endivida a máquina estatal, desvia fundos necessários ao bem-estar da população (sobretudo saúde e educação) para interesses privados, impede o crescimento económico dos múltiplos agregados familiares, perpetuando os ciclos de desigualdade e pobreza, gera o aumento do preço dos serviços (saúde, educação, justiça), assim como da carga fiscal, acabando por culminar na desacreditação das instituições políticas, absentismo eleitoral e um contínuo desenvolvimento económico precário do país. Sendo que Portugal, como Estado Nação, tem a responsabilidade de proteger a sua população, deveria existir responsabilidade, obrigação e dever de exercer mudanças sérias.

Se perguntarmos a qualquer cidadão português se são contra ou a favor da corrupção, diria que quase 90% afirmaria contra, associando este termo como algo negativo. Na verdade, não creio que haja pessoas corruptas em Portugal, mas sim um sistema corrupto que obriga as pessoas a corromperem-se para sobreviverem. Todos sabem que é mas é uma constante no nosso país e ninguém tem coragem de denunciar! Ora, o motivo pelo qual os portugueses se recusam a denunciar é pelo facto de a corrupção em Portugal ser generalizada, estrutural e endémica. Pensam: denunciar para quê? Para me prejudicar? A verdade é que quem detém o poder tem à sua mercê uma panóplia de instrumentos destinados a perseguir e reprimir todos aqueles que não se conformam com a rede de corrupção que controla e gere o nosso país. Quem tiver a ousadia de enfrentar esta gente em campo aberto e de rosto descoberto, embora seja alguém com princípios e honra que não se deixa intimidar, deverá ter cautela com as represálias que poderão surgir. Como dizia Bob Marley: “we won’t take no bribe, we got to say alive”!

Alexandra Nepomuceno escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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