"Bom" - repliquei eu - "é verdade que o senhor Milei, que venceu a eleição, tem posições polémicas relativamente a alguns consensos das sociedades (ditas) evoluídas e ocidentais. Mas, no fundo, "lixada" já está a Argentina, meu Tomás. É um país que entrou em default (e lá expliquei o termo utilizado para incumprimento de empréstimos) e que apresenta uma Inflação de 150%". "Mas o nosso país não tinha ainda este ano uma inflação de 9%, tendo tudo ficado muito mais caro?! A deles é assim tão mais violenta?! Isso é possível?!", interrogou, exclamando, o meu jovem herdeiro, deixando-me com uma ponta de orgulho face ao seu súbito interesse pelas sociedades universais. É assim mesmo. Os anos passam, as décadas sucedem-se e tudo permanece igual. Quem vem da direita, é um horror. Quem se apresenta pela esquerda, goza duma imperscrutável "superioridade moral". Nem de propósito, ainda nesse dia, assistimos a uma peça na SIC em que Javier Milei, era apresentado como alguém com fortes problemas de "estabilidade emocional fruto de repetidos abusos em casa e na escola". A natureza dos "abusos" não foi especificada, mas é suficiente para deixar com os cabelos em pé o vulgar cidadão português que assiste, crédulo, ao contínuo serviço noticioso, estes argentinos perderam a cabeça", concluiria o conformado telespectador. "Aquilo até devia andar mais ou menos, pois nem têm chegado aqui notícias de crise, e vão agora escolher este louco para enterrar o país?", rematará na sua cabeça. Pois é... aquilo deve andar "porreiro".. pelo menos aqui não chegam notícias do default ou dos 150% de inflação. Já do "louco" de direita…
O Pivot de serviço, devidamente instruído, questionava firme e convicto ao inevitável comentador convidado, para explicar tamanha aberração: "Isto agora vai ser um ‘quero posso e mando’, certo?". O dito especialista, com todo o cuidado para não parecer colaboracionista, arriscava: "bom... isso não direi, pois Milei é até acusado de querer privatizar tudo. Fica pouco para o Estado mandar". O Jornalista não se ficou, obviamente. Haveria uma explicação oculta, como convém quando a evidência é menos… evidente: "será então um ‘quero posso e mando’ diferente, sr. Professor?". O comentador, já preocupado com a franca possibilidade de sair dali como "facho", rematou "é possível…". A verdade é que os títulos de dívida argentina subiram a pique. Uma conspiração capitalista, obviamente. Milei não me parece de confiança, manifestamente, mas ao lado do capataz do neo- Kirchnerismo, Massa, vou pela máxima do Tiririca: "pior do que está não fica".
Paixão pela Madeira, em Lisboa
Já em Portugal temos eleições. Um hábito muito nosso. Sem uma ida às urnas a malta entristece, mas, diga-se de passagem, que foi até ao limite. Se o 1º Ministro insinua que se demitiu devido a um "parágrafo assassino", então é porque acha normal que no gabinete ao lado do seu existam 76.000€ em notas no dia 7 de Novembro (no dia anterior poderia ser mais, ou menos, sabe-se lá a "caixa" daquele gabinete) , e que o seu "melhor amigo", espécie de "estatuto-free pass" instituído pelo próprio Costa, à maneira dos melhores exemplos terceiro-mundistas, fosse consultor jurídico sem que tivesse formulado um único parecer, a uma empresa em fase de concessão milionária, a troco de uma choruda avença. E (felizmente) o JM não me dá espaço para elencar todas as restantes situações, em que mesmo num país tão peculiar como Portugal, outro qualquer chefe de governo já teria sido deitado borda fora, fustigado pelo estigma da morte política. E, no entanto, a indicação para o conselho europeu espera serena.
Já pelo socialismo da Madeira, temos Cafôfo salvo pelo gongo da dissolução da Assembleia, da humilhação de um despedimento público, o que não o vai colocar ao fresco de voltar ainda mais cedo para casa que os seus colegas, até ao final do ano. Já ensaiou a narrativa da "paixão pela Madeira", que motivará um deja vu na liderança regional, paixão essa já desconstruída pela sua contraface Iglésias, quando admitiu a candidatura do ainda governante a um lugar de deputado na Assembleia da República. Paixão pela Madeira, sim, mas bem longe, em São Bento.