Por estes dias, lembrei-me da frase de uma campanha, creio que da responsabilidade do Dr. Raimundo Quintal, quando era vereador do Ambiente na Câmara do Funchal. A frase era mais ou menos esta: uma cidade limpa não é uma cidade com muita gente a limpar, mas uma cidade com pouca gente a sujar”.
Em termos ambientais, a frase poderia ser adaptada a muitas áreas, desde a limpeza urbana à recolha seletiva, desde a poupança dos nossos recursos naturais à gestão do território. Este chamar todos a causas que são de todos, não contém em si nenhuma desresponsabilização dos detentores de cargos públicos e políticos, aos quais cabe, primeiramente, a responsabilidade de garantir políticas ativas de prevenção, de ação e de intervenção.
Mas cada vez mais as questões ambientais exigem um compromisso de todos e uma ação global e local. Todos fazemos parte e todos devemos assumir as nossas responsabilidades, ações e muitas vezes omissões.
As catástrofes cada vez mais frequentes, deixam a nu não apenas falhas políticas de gestão, mas também muitos comportamentos que deixaram de ser valorizados ou praticados. Na verdade, acho que primeiramente os decisores políticos e depois todos nós temos de, de uma vez por todas, perceber que a nossa realidade ambiental está em acelerada mudança e que isso exige de todos novas abordagens, novas práticas ou o recuperar de práticas ancestrais hoje em desuso.
Como se costuma dizer, não temos planeta B, nem temos uma ilha ou um arquipélago B. Temos de tratar cada vez com mais respeito e cuidado o nosso território para que estas tragédias não se voltem a repetir, pelo menos com a intensidade e a abrangência que tristemente se assiste nestes últimos dias.
É que dói imenso ver a destruição da nossa paisagem, dói imenso ver a dor e aflição das nossas gentes, dói imenso ver a exaustão dos nossos bombeiros e forças de segurança. Dói imenso ver a profunda ferida que ficará depois na nossa ilha e na memória da nossa população.
Mas esta ferida não pode ser esquecida com o fim das chamas, com o arrefecer da terra. Esta ferida deve continuar a doer em todos nós como alerta, como catalisadora de mudança, como gatilho de responsabilidade.
Primeiro os políticos e depois todos nós temos de ser mais vigilantes, mais interventivos, mais responsáveis, mais exigentes, mais respeitadores do nosso ambiente.
Esta será a premissa de futuro. A premissa do presente é aquela que quero aqui manifestar em forma de solidariedade para com as populações atingidas, e em forma de agradecimento para com todos os bombeiros, forças de segurança, associações, e forças vivas que se têm empenhado por estes dias em ajudar o próximo. A todos um bem-haja e que a nossa ilha recupere rápido a normalidade dos dias.
Somos grandes quando é preciso e já por diversas vezes demos prova disso mesmo. Tenho, por isso, a certeza de que saberemos estar à altura dos desafios futuros, mesmo quando tantos parecem, por vezes, falhar o presente.