De incredulidade em incredulidade, todos os portugueses estão a poder assistir em direto a revelações desconcertantes, dia após dia.
De entre as muitas uma tem provocado especial ruído.
A Presidente da companhia que foi despedida por dois ministros, em direto pela televisão numa conferência de imprensa que ficou para a história do anedotário político, foi à Comissão dar conta de que participou numa reunião secreta, com adjuntos de ministros e com o Deputado Carlos Pereira do PS.
Essa reunião foi nas vésperas de esta ir ao Parlamento explicar como tinha sido o despedimento de Alexandra Reis.
Como ninguém é parvo, nem se deixa passar por isso, logo se colocou a questão de perceber porque motivo uma pessoa que foi chamada à Assembleia para explicar determinado tema, teria participado numa reunião com um Deputado do PS e outros nomeados dos ministérios?
Estava aos olhos de todos que o motivo dessa iniciativa secreta se prendia com "instruir" a interpelada para que não fosse dizer coisas inconvenientes para o Governo e para o Partido Socialista.
Chocados com esta interpretação, logo os ministros emitiram comunicados e Carlos Pereira indignou-se!
Os gabinetes afirmaram que quem pediu para ir à reunião secreta foi a Presidente da TAP.
Pergunta. Como sabia ela dessa reunião se era secreta? (os próprios o afirmam sistematicamente, como secreta).
Basicamente, o que é secreto só é sabido por outros se lhes for dito! O senhor de La Palice não diria melhor!
Mesmo fingindo que somos tontos e acreditamos na "historinha" do ministério, não deixa de ser hilariante o conjunto de episódios seguintes em torno disto.
Indignado e com cara séria, o Deputado Carlos Pereira foi à televisão, por mais que uma vez, desenrolar o seu cardápio de legitimidades, de princípios e de postulados éticos, os quais eram bastantes para mostrar quão de boa-fé estaria.
Pior. Essa coisa de reunir com membros de empresas públicas e ministros era coisa corriqueira, para obter informação.
Sim. Não duvido que essas trocas de informação sejam algo usual. Porém o que não é normal é quando os protagonistas as desenvolvem sob a capa de evento secreto, feito em jeito de panelinha preparatória das "verdades convenientes" a serem ditas numa audição no Parlamento, sobre um assunto constrangedor que coloca em cheque a credibilidade e competência do executivo socialista.
Isso já não é normal. E se o é não devia ser. A bem da tal ética, dos tais princípios e dos demais pergaminhos desenrolados escadaria abaixo da Assembleia da República!
Corolário de toda esta impoluta postura dos Socialistas e de Carlos Pereira em particular, que é nem mais nem menos quem tinha as funções de coordenador do PS na Comissão de Inquérito da TAP? O homem demitiu-se!
E porquê? Porque, disse ele, "faço isto para acabar com especulação, suspeição e insinuação que tem sido gerada em torno de uma reunião que ocorreu" e mais adiante "A saída é para devolver tranquilidade à comissão de inquérito".
Tenho de pasmar.
Então se tudo não foi mais do que feito no estrito cumprimento de um procedimento corriqueiro e normal.
Se tudo foi feito com transparência e ética. À luz dos mais finos e recortados princípios, porque se demite o Deputado que ainda por cima era o Chefe de fila do PS na Comissão?
Isso que dizer que os socialistas se demitem das comissões de acordo com o ruído maior ou menor que é feito em redor das suas condutas, mesmo sendo elas inatacáveis?
Insultos à nossa inteligência, por favor não!
Está bem percebido por que motivo tudo isto aconteceu.
É sintomático que Sérgio Gonçalves não o tenha querido defender.