MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

21/02/2024 08:00

Não era a mensagem que queria ter recebido. Quando deixei a Madeira no mês passado para perseguir o meu sonho de viajar pela Ásia sozinha durante seis meses, sabia perfeitamente que seis meses é muito tempo para a vida ficar igual. Sabia que haveriam aniversários que iria perder, sabia que haveriam jantares de amigos e família em que não poderia estar presente. Sabia que a diferença horária de oito horas seria significativa, especialmente quando quisesse telefonar à minha irmã ou à minha melhor amiga para lhes contar sobre o meu dia e saber sobre o delas. Estava ciente que com um passo desta magnitude, iria perder momentos, dias e datas festivas.

Um mês e meio se passou desde que comecei esta aventura e, de facto, os dias menos bons que tive foram aqueles em que não podia estar com os meus melhores amigos a brindar com vinho europeu (aqui é escasso e caro, saudades de um bom Quinta da Pacheca), ou quando a minha mãe estava triste e não podia estar com ela para a consolar. Especialmente no dia em que ela me mandou uma mensagem a dizer que o meu primo tinha falecido. Era algo esperado - ele estava com cancro terminal - mas receber a mensagem e não poder estar com os meus familiares... Foi um dia difícil. Foi um dia em que me senti culpada. Culpada por estar aqui, culpada por estar a viver experiências incríveis, por estar a conhecer lugares que sempre vi nos anúncios comerciais, culpada por estar a fazê-lo sozinha. E por não estar de mão na mão com a minha mãe ou com a minha tia. Mas se há algo que me fez recordar, é que a vida é curta demais para esperar pelo melhor momento para fazer qualquer coisa.

Continuadamente esperamos pelo fim-de-semana, esperamos pelas férias, continuadamente esperamos. Até que um dia a espera acaba porque ficamos sem tempo.

Por isso quis pegar num bilhete de avião só de ida e aproveitar o meu tempo. Para outros pode ser finalmente começar um desporto que sempre quiseram experimentar, ou aprender uma valência que sempre quiseram ter, ou finalmente dar um passo importante que sempre quiseram dar.

Aquele momento em que abri a mensagem da minha mãe, validou para mim o quão frágil a vida é. O quão efémera pode ser. Cabe-nos a nós vivê-la na melhor das nossas capacidades.

Desde o meu último artigo, há quatro semanas, de onde lhe escrevi das Filipinas, passei pela Malásia e hoje escrevo-lhe da Tailândia, da cama do meu hostel, após um dia intenso no curso de mergulho que estou atualmente a fazer.

Incrível perceber o quanto “cresci” em quatro semanas. Acho que toda a gente devia viajar sozinho pelo menos uma vez na vida, seja um mês noutro país ou um fim de semana noutra cidade. Ir a um sítio que apenas viu na televisão e ver se é o que imaginava ser. Conhecer pessoas que nunca poderia ter conhecido se nunca tivesse saído do seu conforto. Testar a sua independência - ninguém é seu amigo e todos são seus amigos. Descobrir uma versão de si próprio que sempre quis conhecer. Abraçar a grandeza que a vida tem para oferecer e absorver tudo. Ron Lim, um escritor, pôs em papel que a nossa existência é muito maior do que aquilo que imaginamos e aquele bilhete de avião só de ida será o primeiro passo para termos alguns vislumbres dela. E não há uma idade para o fazer: aqui conheci miúdas de 18 anos e jovens de 47 anos. Um dos meus instrutores de mergulho é um espanhol que aos 40 anos decidiu mudar de carreira e perseguir finalmente o seu sonho de ser instrutor de mergulho.

E se não for por viajar sozinho, que seja por fazer coisas fora da sua zona de conforto, coisas que tem vindo a adiar por medo ou por outra razão qualquer. É urgente viver. Porque um dia o tempo irá esgotar-se.

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