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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

7/07/2024 07:30

A história dos Patriarcas não pode ser examinada com as regras do género histórico, ela tem uma outra finalidade e outra preocupação.

É uma história de família com as biografias dos seus antepassados, desde Abraão, Isaque, Jacob, de José do Egito. Ela é uma genealogia, uma história popular, com nomes de pessoas e lugares, mas sem preocupação de servir nem ser essencial à história moderna. Além disso é uma história religiosa que vê em todas as coisas uma ação direta de Deus, para mostrar três ideias fundamentais: um Deus, um povo, um país. Este era o credo que todos os israelitas recitavam quando ofereciam os dízimos. Lê-se no Livro do Deuteronómio 5, 9. “Não te prostrarás diante desses deuses nem os servirás, porque eu Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos, até a terceira e quarta geração dos que me odeiam”.

Se as narrações patriarcais não são recebidas pela conceção moderna da história, elas, porém são históricas visto contarem à sua maneira acontecimentos reais, que nos dão uma descrição fiel da origem e das migrações dos antepassados de Israel. É importante também considerar que as escavações recentes e os Textos que foram descobertos concordam com as narrações bíblicas, como seja a saída de Abraão e de Lot com as migrações dos povos para Canaã no segundo milénio antes da nossa era. A vinda de Jacob e dos seus filhos, concorda com o movimento dos Hiksos que encheram os vales do Nilo, sendo a maior parte de semitas.

A história moderna coloca estas narrações, afirmando que não pertencem à história no sentido estrito, mas à geologia, paleontologia, à pré-história. Será que as hipóteses científicas podem prevalecer contra a verdade que tem relação com o dogma e asseguram a autoridade da Sagrada Escritura? Sob este aspeto, as narrações dos primeiros capítulos do Livro do Génesis tem um valor histórico.

Dizia o meu professor da École Biblique de Jerusalém, o cientista Padre De Vaux: “As narrações populares dos povos vizinhos de Israel, fazem ressaltar a superioridade, a sua pureza moral e religiosa.”

Um dos teólogos mais profundos que estudou e escreveu sobre o tema da Criação é Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI. Para ele, a primeira coisa que deve ser dita é o seguinte: Israel sempre acreditou em Deus Criador, e essa fé era partilhada com as grandes civilizações do Mundo Antigo. A Criação tornou-se tema dominante durante o exílio de Babilónia. Nessa altura os profetas abriram uma nova página e ensinaram a Israel que Deus tinha poder sobre o Céu e a terra, sobre todos os povos e toda a história porque é o Criador de tudo e fonte de todo o poder. O mundo não é uma luta do diabo, mas saiu da Razão de Deus e repousa na Palavra de Deus.

A narração clássica da Criação não é o único texto da Sagrada Escritura sobre a Criação, nos Salmos continua essa mesma doutrina. É preciso ter em conta que o Antigo Testamento não é o fim deste ensino, mas é uma larga estrada que nos leva à mensagem de Jesus Cristo e ao Novo Testamento. A narração da Escritura Sagrada conclusiva e normativa da Criação afirma:” No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus...Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência” (Jo. 1,1-3).

São João tomou as primeiras palavras da Bíblia, e fez uma releitura da narração da Criação a partir de Jesus Cristo. Desta forma, para nós cristãos, ao lermos e meditarmos sobre o Antigo Testamento, temos de fazê-lo sempre com Cristo e através de Cristo. Com alegria e em ação de graças, proclamamos no Credo da Igreja: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra”.

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