Londres acorda a cada dia para uma nova realidade, uma nova história - um acontecimento politico, financeiro, científico ou social que enche páginas de jornais, mesmo que não tenha tido lugar nesta cidade, reflecte-se em Londres. É uma cidade completamente conectada, que vibra e sente o pulsar do mundo a cada instante.
Quando cheguei a Londres em 2010 e por pura casualidade professional, fui tomando conhecimento da dimensão da comunidade madeirense aí residente. São cerca de 140 mil os madeirenses, completamente integrados no rebuliço e dinâmica de Londres, alguns com 2 ou até mesmo 3 trabalhos, porque a procura é grande, pelas suas qualidades de bons profissionais, "Trabalham bem, chegam a horas e não fazem desacatos" - diz um empresário inglês, dos madeirenses que emprega. Trabalham nos restaurantes, fazem-se passar por italianos (porque a marca Italia vende mais), bares, clubes, pubs, supermercados, limpam escritórios e casas particulares, são governantas, motoristas, padeiros e jardineiros, são empresários e empreendedores, que enriqueçem a cada dia o bem estar desta comunidade. No fim do dia recolhem-se entre família e amigos e voltam a ser os madeirenses que vivem de coração dividido, entre a Madeira e Londres.
Ouvi de vários emigrantes madeirenses em Londres relatos completamente fascinantes, sinónimos de resiliência e tenacidade, aquando das suas chegadas ao Reino Unido. Expressam sempre a sua gratidão por quem lhes deu a mão para começarem, quando o futuro era incerto. As dificuldades da língua que não falavam, o conhecimento que não adquiram na escola que ficou para trás, o não ter onde dormir na noite que se aproximava, o frio que gelava a alma, foram algumas das dificuldades que foram ultrapassadas pela vontade de vencer e crescer, numa terra de oportunidades - mas não é fácil ser emigrante. É com enorme respeito que guardo cada história, relato e confidência destes homens e mulheres, que um dia, com lágrimas nos olhos e o coração apertado, deixaram a sua Madeira em busca de um futuro melhor.
Os momentos de festas são celebrados em comunidades bem organizadas, com as melhores iguarias da Madeira, entre danças e cantares, risos e alegrias. São madeirenses de Santana, Ribeira Brava, Gaula, Machico, Camacha, São Vicente e de toda a Madeira, que se juntam em volta de um bailhinho muito nosso. Aqui encontram o verdadeiro significado de comunidade, onde as alegrias e as tristezas são partilhadas, onde há sempre lugar para mais um, estar em conjunto para não sentir-se só, numa verdadeira Madeira em Londres.
Geraç?es que entretanto foram passando e criando raízes, numa terra que os acolhe e protege, desde que estejam devidamente registados e a cumprirem com as suas obrigaç?es, enquanto residentes desta cidade. Hoje, pela fragilidade que vivemos com a pandemia, assistimos a um retomar das actividades, de forma gradual e cautelosa. Muitos madeirenses pela natureza das suas funç?es, ou pela precaridade dos seus vínculos laborais, não chegaram a parar de trabalhar e ficaram expostos ao risco deste vírus impiedoso, que tem vindo a ceifar muitas vidas. A Madeira em Londres espera pelos melhores dias que se avizinham, num retomar da sua labuta frenética e na ânsia pelos seus momentos de festa.