Estes últimos anos têm sido de muita tensão a nível familiar, pessoal e profissional (cada um com os seus problemas). Chegou uma altura em que pouco ou nada me dava prazer ou me surpreendia. Viver de perto esta instabilidade e jogada política, exige um grande esforço para manter a racionalidade, a razoabilidade, o bom senso e a integridade. Confesso que nestes dias desacreditei na raça humana: nos que demonstram descontentamento, e na verdade, preferem que tudo se mantenha igual; dos que só dizem mal, sem perguntar: “qual será o motivo para ser assim?” ou apresentar uma proposta exequível; de quem não tem coragem de ser honesto e prefere criar esquemas para derrubar alguém; de quem não sabe lidar com a verdade, mesmo que ríspida e dura; de quem prefere ouvir mentiras e apoiá-las simplesmente para não assumir as suas responsabilidades; de quem está sempre a culpar o outro por aquilo que não lhe corre bem e pelos que não perguntam: “como te posso ajudar?” ou “Como te estás a aguentar?”.
Viver a desconfiar de todos? Assim, não me sentia digna de defender a felicidade no trabalho. Para ela acontecer, são fundamentais a confiança, a cooperação, a alegria pelo sucesso do outro, a possibilidade de errar e de se sentir apoiado. É esta forma de estar que me move e que eu acredito. Vão continuar a chamar-me de inocente, de fraca... quero lá saber! Não posso ser aquilo que abomino. É melhor dar dois passos atrás do que um passo em frente para o abismo.
Com este veneno instalado precisava de fazer um detox.
Achei que ia fazer-me bem relaxar num hotel giro e comer uma bela refeição num bom restaurante. Rapidamente percebi que era “muita areia para a minha furgoneta”, assim como para a maior parte dos madeirenses que vive numa ilha para “inglês ver”. Coloquei a hipótese de participar num daqueles retiros em que parece que todos saem renovados e repletos de paz interior, mas cética como sou, podia correr mal e cobram “couro e cabelo”. Então, como é que uma pessoa comum pode espantar os males? Digo-vos: “vão, mas é...” fazer uma caminhada na levada; ligar a um amigo que não falam há muito tempo; desfazer-se de coisas que já não usam para vender ou doar; dar um mergulho no mar; visitar familiares que vos são queridos; elogiar os que vos rodeiam; experimentar uma receita nova e deliciosa; ouvir boa música, cantar, dançar; abraçar e beijar quem gostam; aceitar um abraço e um beijo sincero; ir ao cemitério e falar com quem já cá não está e vos faz tanta falta; limpar o carro; rever o álbum de família; imprimir as fotos mais bonitas que têm no telemóvel; convidar os amigos a ir lá à casa (nem que seja cada um traz algo, pois está complicado para todos); dormir tudo o que for possível; descansar sem sentir culpa; arranjar tempo para estar com os filhos sem a presença do telemóvel; namorar sem falar de contas ou trabalho, sem telemóvel; ver o pôr do sol; estar em silêncio, sem telemóvel; ficar só, sem telemóvel; ver uma série de televisão que não obrigue a pensar muito; ir à serra gritar com as ovelhas (as que existem!!); dar uma volta de carro sem destino e desligar o telemóvel; brindar com poncha ou niquita sem álcool por qualquer motivo; recusar fazer fretes ou falar com quem vos faz mal; dar-se ao direito de não responder a mensagens... Tudo isto... só porque sim!
Acredito que estas terapias mais acessíveis, tornaria as pessoas mais responsáveis pelas suas vidas, mais cooperantes, mais acessíveis, mais honestas, melhores consigo e com os outros. “Vão, mas é...!”