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Artigo de Opinião

5/05/2023 08:00

É daqueles homens a quem o epíteto ilustre anda sempre atado como uma lata ao rabo dum cão, a pertencer-lhe, tanto como a lata ao cão pertence.

Empurramo-lo ao poder e agora fere-nos, estando nós por detrás dele.

Argumentei sempre, a sós comigo, isto: que um parlamentar tão brilhante como o Sr. A. Costa ou seria um extraordinário estadista, ou uma nulidade em construir [?] — Encarregou-se o destino — felizmente — de eliminar a primeira hipótese. O Sr. Costa pertence, politicamente, ao passado; [...] — Trabalha lutando pela República. Trabalha mais ainda, deixando de trabalhar.

A. Costa é o perfeito tipo do salteador político. Maior (...) não deparou o Destino à política. O seu partido é as fezes da República. Mas como pode ser libertador um pobre idiota que nunca se libertou a si de coisa alguma?"

Estes são vários trechos (incluindo o título) da Oligarquia das Bestas, uma obra inédita de Fernando Pessoa. Naturalmente que A. Costa não é "nosso" António Costa, mas Afonso Costa, político republicano português do início do Séc. XX, a quem o poeta dedicava um ódio especial. De resto, na minha opinião, um ódio bem merecido, nem que fosse pelo simples facto de Afonso Costa ter criticado a encíclica Rerum Novarum, tão só a matriz fundadora da Doutrina Social da Igreja.

Mas se estas invectivas de Pessoa não se destinaram ao nosso Primeiro-Ministro, a verdade é que, passe os excessos linguísticos admissíveis apenas ao Poeta maior do que Camões, substancialmente, os governos de António Costa são tão merecedores de crítica como o era Afonso Costa.

Vem este introito, para irmos à política nacional e à decadência em que parece ter mergulhado. O "episódio" Galamba é apenas mais um, entre tantos outros desvarios que têm marcado a maioria de António Costa: polémicas em torno do novo aeroporto e saída de Pedro Nuno Santos, a política de habitação, caos nas urgências e saída de Marta Temido, os escândalos na TAP, a quantidade de membros de Governo arguidos ou investigados... É escolher o seu veneno, porque o que não faltam são alternativas legítimas para fazer cair um governo.

Aliás, há quem diga que fazer depender o Governo de um ministro como João Galamba é jogada arriscada. Eu, como acho que Costa pretende mesmo ir já para eleições, acho que o único risco que o Primeiro-Ministro corre é Marcelo Rebelo de Sousa não demitir o governo, ou, se demitir, não convocar eleições antecipadas.

Porque é isso que Costa quer, temendo os efeitos que a Comissão de Inquérito à TAP e os outros desastres governativos possam apodrecer ainda mais a confiança dos Portugueses no PS. Costa, a par com a maioria dos observadores políticos, sabe que daqui para a frente ficará cada vez mais enfraquecido nas urnas. E vai querer forçar eleições antecipadas para ver se ainda vai a tempo de se manter no poder. Por isso, abriu esta guerra com o Presidente da República. Que terá de ser astuto para não dar a Costa exatamente o que ele quer.

Eu sou daqueles que gostaria de ver António Costa fora do poder. Porque não o considero "estadista" mas antes uma "nulidade em construir". Por isso, acho que não lhe devemos fazer o favor. Que fique no governo até todos perceberem que António Costa será bom governante para Portugal e que irá trabalhar mais, quando deixar de trabalhar para Portugal!

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