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Artigo de Opinião

24/05/2022 08:00

Como a maioria dos países, o sistema de saúde dos Estados Unidos é misto, com seguro de saúde público e privado. O que o diferencia dos demais é o domínio do setor privado sobre o público e a falta de cobertura universal de saúde. Precisamente o oposto daquilo pretendemos para a nossa saúde. Procurar exemplos nestes locais é no mínimo contraditório, sobretudo quando existem ótimos exemplos de saúde pública bem mais próximos. Talvez seja por isso que tenham feito a fusão entre o Lar da Bela Vista e o Atalaia Living Care, uma opção claramente orientada para fomentar o negócio na saúde, assim como fazem os americanos. Depois impingem-nos frases pomposas como "transição digital na saúde leva Pedro Ramos aos EUA", por favor não insultem a nossa inteligência.

Sim eu já sei, o que alguns vão dizer, vão alegar que os exemplos que o nosso governante procura nos EUA é na vertente da modernização digital. Agora pensem um pouco para além do óbvio e questionem-se de que serve esse avanço se a estrutura é arcaica e o funcionamento de base é deficitário. Isto é como colocar um computador numa carripana com 40 anos que mal anda ou começar a construir uma casa pelo telhado.

Desde o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro da Região (PAEF-RAM), que assistimos ao degradar do Serviço Regional de Saúde. Força do constante desinvestimento no sector, mas também por erros de gestão que teimam em perdurar. Temos uma estrutura excessivamente partidarizada, que nem sempre prima pelo mérito e que é geradora de diversos conflitos. O endividamento excessivo gerou a rutura de fornecimento de equipamentos e materiais essenciais, tudo isso aliado à falta de profissionais de saúde, criando listas de espera para cirurgia, consulta e exames intermináveis. O que culminou na total opacidade das listas de espera nos nossos hospitais. Até hoje, tem sido impossível fornecer critérios e garantir a transparência. O utente não conhece o lugar na lista, nem quantas pessoas constam. O serviço de saúde se quiser sobe e desce pessoas na lista, mas o utente não conhece os critérios de escolha e o protocolo. Não há forma de evitar injustiças e o fator cunha em detrimento da necessidade e urgência do doente. Mas para resolver este problema os nossos governantes não vão ao estrangeiro procurar os bons exemplos.

Para agravar a situação, se pensarmos bem, gastamos milhões e milhões em obras públicas ao longos dos últimos anos, muitas delas de interesse público duvidoso e fomos incapazes até à data em garantir infraestruturas de saúde capazes de satisfazer as necessidades atuais. Explicar este fenómeno, obriga-nos a uma reflexão difícil. Permitimos uma total inversão de prioridades na utilização do dinheiro do público, o que nos envergonha enquanto sociedade. Espero viver para assistir à conclusão da construção do novo hospital, dado o histórico, ver para crer. O acontecimento vai ser mais badalado que o milagre de Fátima.

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