A verdade é que, independentemente de ser explícito ou não, esse custo existe e, considerado de forma agregada em todo o país, representa anualmente milhares de milhões de euros. Trata-se dos custos que decorrem dos problemas de saúde psicológica e bem estar nos locais de trabalho e que se expressam, entre outros, em perdas significativas de produtividade, em absentismo e em presentismo.
Vários indicadores evidenciam o impacto que as questões de saúde psicológica têm no trabalho. Sabe-se, por exemplo, que mais de metade dos dias de trabalho perdidos decorrem de problemas na esfera da saúde psicológica. Mas a boa notícia é que também se sabe que as intervenções que visam a prevenção e a promoção da saúde psicológica nos locais de trabalho são custo-efetivas, com retornos que se podem traduzir em 9 eur por cada 1 eur investido (vide www.maisprodutividade.org). Ou seja, agir e implementar boas práticas em saúde psicológica e bem estar no trabalho - o que inclui por exemplo avaliar e intervir sobre os riscos psicossociais - não é um luxo nem sequer uma mera forma de prestigiar uma organização, mas significa boa liderança e uma gestão eficiente, que segue critérios de racionalidade económica.
Estes benefícios, por sua vez, não se restringem à organização em que as boas práticas existem. Como bem sabemos, prevenir, identificar e agir sobre os problemas na sua origem e atempadamente significa evitar que os mesmos tenham de ser encarados mais tarde, com menor eficácia na sua resolução e com mais custos também para o sistema de saúde e de segurança social. É, portanto, o próprio Estado - isto é, todos nós como sociedade - que deve ter interesse em fazer cumprir a avaliação e a intervenção sistemática sobre os riscos psicossociais nas organizações que já está prevista e em valorizar a criação do enquadramento legislativo do papel do psicólogo do trabalho.
É justamente por as questões de saúde psicológica e bem estar nos locais de trabalho serem fulcrais para todos - para os indivíduos, para as organizações e para a sociedade - que a Ordem dos Psicólogos Portugueses tem vindo a assinalar e promover iniciativas neste âmbito e em que se inclui o Prémio Locais de Trabalho Saudáveis, cujas candidaturas para uma nova edição estão abertas até ao próximo dia 18 de fevereiro (www.maisprodutividade.org/healthyworkplaces). É um prémio que distingue as organizações empenhadas e com práticas promotoras da segurança, bem-estar e saúde no local de trabalho, incluindo uma abordagem participativa na gestão dos riscos psicossociais e da saúde ocupacional. No fundo, uma distinção para aquelas organizações que realmente concretizam no seu funcionamento a preocupação que todos afirmam ter.
É certo que viver melhor o trabalho também requer uma ação individual, que decorre da preocupação de cada um pelo seu autocuidado e do compromisso pessoal em ser competente. Mas isso não é suficiente. O autocuidado, a saúde e o bem estar não é apenas uma responsabilidade individual, mas também coletiva e organizacional.
Se as evidências existem sobre o que funciona e o que não funciona, ou sobre o impacto que têm as boas práticas em saúde psicológica e bem estar nos locais de trabalho, então é necessário passar à prática e também reconhecer os bons exemplos. Com efeitos positivos para todos, incluindo na demonstração anual de resultados de cada organização.