A cabeça de lista do Livre às eleições antecipadas de 26 de maio na Madeira, Marta Sofia, quer devolver “esperança” às pessoas e garante que não viabilizará qualquer proposta de governo à direita caso seja eleita deputada.
“Se eu for eleita, posso garantir, o meu compromisso é de não viabilizar nenhum governo do PSD ou à direita”, disse em entrevista à agência Lusa, reforçando que o Livre, partido pelo qual concorre como não filiada, não apoiará quem “compactua” com o PSD e com as medidas de direita.
Marta Sofia Vieira Silva, que tem 40 anos (nasceu em 06 de novembro de 1983) e é profissional de Cultura, disse, no entanto, estar disponível para analisar os programas de governo das forças de esquerda entre as 14 candidaturas às eleições regionais antecipadas.
“O objetivo é a eleição de uma voz livre para o parlamento regional, uma voz de protesto, de denúncia, mas também de propostas”, disse, para depois acrescentar: “As pessoas perderam a esperança, as pessoas estão descrentes, e o que eu quero é dar esperança a essas pessoas.”
A candidata destacou as propostas do partido em três áreas que considera fundamentais - habitação, saúde e ecologia -, sublinhando que os últimos 48 anos de Governo Regional liderado pelo PSD “impediram o desenvolvimento económico e social” do arquipélago e fizeram com que as “bolsas de pobreza se perpetuassem”.
“É inaceitável a pressão que as famílias têm neste momento e isto compromete um direito básico, a habitação digna”, disse.
Marta Sofia, que nasceu no Funchal e reside atualmente no concelho de Santa Cruz, na zona leste da Madeira, considera que a especulação imobiliária dificulta o acesso à habitação pelos cidadãos com salários baixos e médios, pelo que defende “políticas públicas abrangentes” que incluam investimentos na habitação social e a custos controlados.
Criar regulamentação de controlo do preço dos imóveis, limitar o investimento estrangeiro no setor, estabelecer quotas entre 10% e 20% em novos empreendimentos para habitação social e a custos controlados são algumas das medidas que o Livre defende, bem como aumentar o apoio público ao arrendamento e compra de casa, sobretudo ao nível dos jovens.
“A crise habitacional é um flagelo muito grande que nós temos na nossa região. Tem de haver uma forma de combatermos isto e é possível, havendo vontade”, afirmou.
Ao nível da saúde, Marta Sofia considera que após 48 anos de regime autonómico o serviço público continua a falhar, pelo que propõe mais investimento em recursos humanos e no melhoramento das condições de trabalho, vincando que isso contribuirá para atrair e fixar os profissionais na região.
“Se me perguntassem o que faria com o excedente orçamental que nós temos, automaticamente eu diria saúde e habitação, sem qualquer tipo de hesitação”, afirmou.
Outro setor que a candidatura destaca é o da ecologia, articulado com o turismo e a sustentabilidade, três áreas que, defendeu, devem “andar em sintonia” na região autónoma.
“Para promover a sustentabilidade no turismo é fundamental adotar práticas que minimizem os impactos ambientais, sociais e culturais e que incluam a proteção da nossa floresta laurissilva, que é património mundial da UNESCO”, explicou a cabeça de lista, adiantando que “não existe um plano B para o património natural depois de estar destruído”.
Marta Sofia, que já militou no PEV e no BE, aposta também na promoção do ecoturismo e na criação de um plano regional para a agricultura biológica, que deverá estipular um rendimento fixo para os agricultores e o Imposto sobre o Valor Acrescenta (IVA) reduzido (3%) para produtos integralmente biológicos e estimular a criação de cooperativas.
“Isto ajudaria a criar condições para que se pudesse cumprir uma meta de pelo menos 30%, em 10 anos, da superfície agrícola dedicada ao modo biológico”, explicou.
Nas últimas eleições regionais, em 24 de setembro de 2023, às quais concorreram 13 forças políticas, o Livre obteve 858 votos (0,65%), num universo de 135.446 votantes.
As antecipadas de 26 de maio ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro, quando o líder do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, foi constituído arguido num processo em que são investigadas suspeitas de corrupção.
Nos dois últimos mandatos, o PSD de Albuquerque (que preside ao executivo desde 2015) falhou a maioria absoluta, levando os sociais-democratas a fazer uma coligação com o CDS (2019) e, depois, um acordo de incidência parlamentar com o PAN (2023).