Analistas contactados pela Lusa convergem na ideia, sobre a nova política económica da África do Sul, de que o novo governo vai manter as linhas orientadoras dos últimos anos, mas enfrentará também mais dificuldades.
“Antevemos que o novo governo de unidade nacional da África do Sul não vá causar uma significativa mudança de políticas, e o resultado eleitoral é favorável para a perspetiva de evolução económica e orçamental, mas acreditamos que vá enfrentar grandes dificuldades para retomar o crescimento e manter a disciplina orçamental, ao mesmo tempo que navega a nova realidade de uma governação em coligação”, escreve a agência de notação financeira Standard & Poor’s.
Numa nota enviada à Lusa sobre a política económica do novo governo sul-africano, a S&P afirma que “a agenda de nove pontos da coligação pretende dar prioridade às reformas estruturais para resolver o problema do serviço de infraestruturas básicas e de fracos investimentos, ao mesmo tempo que pretende reduzir gradualmente o défice orçamental”.
No entanto, concluem, “as significativas diferenças ideológicas entre o ANC (Congresso Nacional Africano, que perdeu a maioria) e o DA (partido Aliança Democrática, com o qual formou coligação) em questões como a ação afirmativa e a política externa podem desestabilizar o governo”.
Para além das dificuldades inerentes a um governo de coligação inédito na África do Sul desde o regime segregacionista, o novo governo vai precisar de tempo, afirmam também os analistas da EG Africa.
O novo executivo, de 34 ministros e 42 vice-ministros “é composto de 11 partidos que vão desde a extrema-esquerda até à extrema direita”, o que, por si só, garante demora no processo de entrada em funcionamento do governo, salientam numa nota enviada à Lusa.
“O novo governo vai provavelmente precisar de tempo para se instalar”, considera a EG Africa, alertando que “nenhum dos nomeados pela Aliança Democrática tem experiência num governo nacional e têm pouca ou nenhuma experiência de governação, o que provavelmente fará com que demorem meses a acostumar-se aos seus novos papéis”.
Na mesma linha, a consultora Capital Economics salienta que a governação vai ser mais difícil e que os investidores estão atentos, a avaliar pela desvalorização da moeda local em apenas uma semana.
“As tensões dentro da coligação, logo no início do processo, minaram o otimismo cauteloso dos investidores, com o rand a perder 1,2% face ao dólar na última semana, e se o DA saísse da coligação, fortes quebras na moeda local e um aumento nos juros da dívida pareceriam inevitáveis”, conclui a Capital Economics numa nota enviada à Lusa.
Independentemente do resultado das negociações sobre lugares e políticas, nesta fase inicial, “um governo frágil mostra que a nova era de governação em coligação torna difícil resolver os problemas do país, a começar nas finanças públicas e a terminar nos impedimentos estruturais ao crescimento”, conclui esta consultora.
O PIB ‘per capita’ da África do Sul estava nos 6.200 dólares (cerca de 5.700 euros) no ano passado, abaixo dos níveis de 2006 e, ao mesmo tempo, a dívida pública passou de 45%, há uma década, para 76% em 2023, com o crescimento da economia a manter-se fraco, registando 1,1% este ano, pouco acima dos 0,6% do ano passado, e o crescimento real ‘per capita’ a ser praticamente zero este ano, segundo as previsões da S&P.