A Organização Não-Governamental (ONG) Corporate Europe Observatory afirmou hoje que a parceria entre a União Europeia e a África do Sul para produção e exportação de hidrogénio verde está a prejudicar as comunidades locais.
“Os testemunhos [ouvidos pela ONG na visita à África do Sul, em maio] reforçam as preocupações sobre os impactos estruturais dos projetos de hidrogénio verde nos países exportadores e nas comunidades em várias frentes”, lê-se na nota enviada à Lusa, na qual se dá conta que os projetos de exploração de hidrogénio verde estão a prejudicar as comunidades locais.
“Há deslocação de comunidades e intensificação de conflitos pelo acesso à terra, como já está a acontecer com as comunidades em torno de Boegoebaai, onde o povo indígena Nama receia perder 70 mil hectares das suas terras para o projetado ‘cluster’ de hidrogénio da Sasol, ou com as aldeias que rodeiam a controversa mina de platina de Mogalakwena, na província do Limpopo”, lê-se no comunicado que acompanha a divulgação do relatório.
Para além de criticar a violação dos direitos fundiários dos habitantes de zonas económicas especiais, onde se situam alguns dos projetos de hidrogénio verde, esta ONG aponta também as dificuldades de acesso à água necessária para produzir o hidrogénio, num país já confrontado com escassez de água, e a destruição da orla costeira.
“O hidrogénio verde apresenta riscos para as comunidades costeiras da África do Sul que dependem da pesca para a sua subsistência e sobrevivência; os novos megaportos e o elevado tráfego de navios-tanque movidos a combustíveis fósseis para a exportação de hidrogénio podem degradar as zonas de pesca e restringir o acesso ao mar por parte das comunidades, incluindo o povo indígena Nama em Boegoebaai”, aponta-se no documento, no qual se critica também o processo em termos do acesso à energia e da permeabilidade de Bruxelas “aos lóbis do hidrogénio”.
A África do Sul é um dos países identificados pela UE como um potencial fornecedor de hidrogénio verde, num negócio apresentado como vantajoso para os países europeus, que reduzirão as suas emissões, e para a África do Sul, que poderia assim impulsionar a sua economia, descarbonizar a sua indústria e criar centenas de milhares de empregos.
“Parece muito promissor, mas as vozes das comunidades locais têm sido silenciadas no debate europeu sobre o hidrogénio. A nossa viagem de investigação revelou um ponto comum às comunidades afetadas: a falta de consulta pública, a apropriação de recursos como a terra, a água e os minerais e o despejo de impactos negativos sobre as populações locais”, conclui a ONG.