Silly season como a chamam nos meandros mediáticos, praias e cafés à beira mar cheios de veraneantes prontos a desfrutar da excelente meteorologia com que nos bafeja o Atlântico, festivais de verão apinhados, arraiais e festas de verão um pouco por todo o lado para alegria do povo, quiçá a compensar os dois anos negros vividos. É o tão ansiado regresso à normalidade, o final das tão famigeradas "duas semanas em casa fechados", que se tornaram em dois annus horribilis. Dois anos em que a resiliência humana foi testada ao limite, voltamos à normalidade. A uma normalidade em que nada é igual ao que era.
Uma normalidade em que ficou demonstrada a capacidade de reformulação do projeto Europeu, tal como vaticinado por Schuman, um projeto dinâmico em constante transformação, que conseguiu responder cientificamente, economicamente e politicamente a uma das piores crises dos nossos tempos.
E em 2022, mais um sinal: a União Europeia celebra o Ano Europeu da Juventude. É a resposta à geração mais sacrificada pela COVID-19. Traduz-se num conjunto de atividades a desenvolver entre as instituições europeias e as autoridades nacionais, regionais e locais e organizações juvenis para os jovens, e que pretende que estes beneficiem das inúmeras oportunidades para adquirir conhecimentos, aptidões e competências para o seu desenvolvimento. Reitero que as políticas de juventude têm de ser integradas em todos os domínios políticos pertinentes da UE, de forma a assegurarmos que a perspetiva dos jovens é tida em conta em todos os níveis do processo de tomada de decisão.
E se os Anos Europeus são campanhas de sensibilização sobre um tema específico para estimular o debate e o diálogo nos países da UE e entre estes; em que nalguns casos até são concedidos financiamentos suplementares a projetos locais, nacionais e transnacionais relacionados com o tema; em que além do claro sinal político, o tema será tido em conta na construção de futuras políticas e legislação... 2023 tem então de ser o Ano Europeu da Saúde Mental.
A saúde mental é um dos nossos bens mais preciosos e que tem de ser salvaguardado. Apenas na União Europeia os problemas de saúde mental afetam 80 milhões de cidadãos. E muitos mais poderão vir a ser afetados, considerando que os problemas existentes foram amplificados pela pandemia, e as suas consequências a longo prazo ainda estão por desvendar. A Organização Mundial de Saúde estima que a prevalência global de ansiedade e depressão tenha aumentado em 25% (!) face a números pré-pandémicos. É apenas a ponta do iceberg.
A saúde mental é um dos nossos bens mais preciosos, mas aquando do diagnóstico de distúrbio ou patologia mental, o estigma ainda é, infelizmente, uma constante presente. Importa perceber que a saúde mental é parte integral da condição humana, e que uma doença oncológica ou mental carecem da mesma atenção proporcional à sua gravidade, morbilidade e mortalidade.
Urge uma estratégia europeia para a saúde mental, que considere a natureza multifatorial das doenças mentais, as suas consequências sociais e económicas, e que promova o desenvolvimento de políticas multissetoriais dirigidas. Saúde (em todas as suas valências), em todas as políticas.
Em 2022 celebramos a juventude, a geração mais sacrificada pela pandemia. Em 2023, celebremos a saúde mental. Um dos nossos maiores bens, e tantas vezes negligenciada.