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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

30/07/2024 08:00

Durante a minha estada na Madeira, também corri, corri para o outro, para ver quem não via há mais tempo do que deveria. Num dos primeiros dias, estivemos no concerto de Bruno e André Santos no Funchal Jazz, onde já não dizíamos presente há muito, atuando com a Orquestra de Jazz do Funchal (viva também a Associação Melro Preto, e quem a faz!). Na cálida noite funchalense, com uma linguagem comum, ouvimos a voz de José Tolentino Mendonça declamar Uma Espécie de Pacto, que é a arte de Lourdes Castro. Assim entrámos por essa Madeira adentro com companheiros de várias andanças. A talho de agulha, e no dia em que este artigo é publicado, celebra-se o Dia Mundial do Bordado, e o Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira apresenta uma mostra de peças de Lourdes Castro: o magenta do seu hibiscus é qualquer coisa. Qual será o ponto? Por falar em cores primárias, aprendi com o Desidério do MUDAS que o azul ciano é uma delas. Teve a amabilidade de, depois de uma visita guiada à Galeria dos Prazeres – agora integrada no museu que habita o edifício de Paulo David – e à sua mui interessante exposição de António Barros, Escravos. Insulae. Do 25 de Abril, 50 anos depois [ainda penso nos seus ex-cravos, e no que a escrita esgrita] – fazer connosco uma oficina de cianotipia: flores e folhas do jardim perpetuados pelo sol em papel, que, outrora, já foi planta. Como andará o azul da Prússia? A Rafaela Rodrigues, ilustradora e autora de A Bordadeira, também conduziu as nossas meninas pelos meandros do Museu Henrique e Francisco Franco: algo me diz que falaram do retrato da prima da Ponta do Pargo – já vos disse que algumas das paisagens do Henrique Franco me lembram as do pintor georgiano Kakabadze, tendo os dois coincidido temporalmente em Paris nas respetivas estadas?

Encontrei o Hélder, que coordena o projeto da Capela da Boa Viagem, e o Luís Paulo, quando admiravam um ser vivo de idade provecta, uma das árvores-casa numa das pontas do jardim municipal do Funchal. Combinámos ir à peregrinação do ciclo de exposições Semeadores, com Todos os Animais do Luís Paulo Costa, e O Cão do Dragoal do Nuno Henrique. Lá chegados, deparámo-nos também com Aida Carvalho, a diretora do Museu do Côa e Óscar Lobo de Faria, curador e antigo jornalista do PÚBLICO. A conversa fluiu, fez-se península, e pusemos as gravuras, o cão, e todos os animais a nadar, yo! A Capela, o Salazar seccionado com arco-íris por dentro – you wish! -, a figura jurídica do animal comunitário – que somos todos – ainda ecoam em mim.

Chego ao final e ainda há tanto por dizer: como a magnífica visita guiada pelo Rigo, acompanhado pelo Natxo, da galeria Zé dos Bois, o «ministro da Cultura do governo bom», como dizia o artista madeirense, parafraseando os zapatistas – movimento sobre o qual versa a sua exposição intergalática no Centro Cultural e de Investigação do Funchal, CCIF, liderado pelo Sr. Edicarte e capitão de Abril, Francisco Faria Paulino, que pretende que as juntas de freguesia sejam correias de transmissão culturais, uma espécie de «caracoles» zapatistas da boa governança cultural.

O que sei é que tudo isto nos quis fazer bailar, e acabámos no palco da Ribeira Seca, frente à igreja à qual a Virgem virou as costas e não entrou porque o Padre Martins era da outra malta, a participar mão na mão da Festa do Povo. O que eu daria agora por uma sopa de lapas feita pela Sandra (Biqueira) no Museu Etnográfico da Ribeira Brava. Viva a Madeira, não a da Internet, mas aquela onde ainda vive gente, e viva a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos: a França, e o mundo, também podem ser/são assim. No final das contas, e como dizia o professor Vítor Sardinha, «se o jazz for só partitura não chega lá!».

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