«A Política é a arte do possível, do alcançável — a arte do segundo melhor»Otto von Bismarck (1815-1898)
Otto von Bismarck é um nome incontornável da história da Europa em boa parte por ter conseguido tornar possível a unificação alemã em 1871. A citação que escolhi para abrir esta crónica de hoje é de 1867, precede este acontecimento histórico em quatro anos.
A Política é, também por isso, a arte do compromisso. As negociações podem ser difíceis, tendem a demorar tempo, mas, quando todas as partes estão dispostas a abrir mão de algo em nome de um bem maior ainda que não perfeito, têm o condão de abrir novos caminhos de entendimento. No limite impedem que política continue por outros meios, parafraseando a definição de Guerra de Carl von Clausewitz.
No entanto, também há quem veja a negociação como traição, especialmente quando os diferentes pontos de partida são entendidos como princípios ou valores morais fundamentais.
Ao nível nacional, um bom exemplo é a diversidade de partidos políticos que surgiram no pós-25 de Abril. Embora quase todos partilhassem muitos dos princípios básicos de esquerda, estavam separados por diferenças que se assumiam para quem neles militava como princípios inegociáveis levando a que, durante muitos anos, a esquerda se apresentasse fragmentada.
Mais recentemente, o fenómeno começa a surgir um pouco por todo o chamado Ocidente, do lado mais à direita do espectro político. Parte dessa fragmentação deve-se ao ressurgimento de ideais políticos que muitos achavam que tinham ficado enterrados depois da II Guerra Mundial.
Segundo Vicente Valentim, o sociólogo português autor de o “Fim da Vergonha”, baseado na sua tese de doutoramento em Oxford, na verdade sempre estiveram presentes, embora de forma pouco assumida. Com a explosão de visibilidade do discurso da direita radical, em boa parte promovida por uma imprensa que vive da estranheza e do horror, essas pessoas viram que afinal não estavam tão sós e sentiram-se representadas.
Os partidos do chamado centro político, que durante anos procuraram apresentar-se como campeões do eleitorado mediano não estavam preparados para o desafio.
Um pouco por toda a Europa os partidos do centro-direita procuraram estancar alguma sangria aproximando-se do discurso dessa direita, que de repente ganhou mais popularidade.
No centro-esquerda o movimento inicial foi, aparentemente, simétrico. Mas terá sido mesmo assim?
Ao vincar as diferenças para com esta nova versão da direita radical e da direita moderada que se vai radicalizando, os partidos centristas que promovem a defesa dos direitos humanos, da igualdade de oportunidades e do estado social aparecem como estando para lá da fronteira do polo oposto.
O resultado é a perceção de uma cada vez maior polarização e do aumento de tensão e intolerância transversal a toda a população.
Os tempos são difíceis, mas é em tempos difíceis que a liderança e a capacidade negocial ganham mais importância.
É por isso que o acordo “praticamente impossível” alcançado em Portugal para o orçamento de 2025 é muito mais do que parece à primeira vista. Ninguém estará plenamente satisfeito com este orçamento, mas o que se salva é fundamental: a ideia de que a política do possível continua viva.