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Artigo de Opinião

2/01/2024 08:00

Agora já sabemos que é Pedro Nuno Santos, o Sr. ex-ministro-que-confirma-ricas indemnizações-por-WhatsApp na empresa que forçou pela goela abaixo (ou bolso fora...?) ao contribuinte português, o candidato apontado pelo PS ao cargo do demissionário António Costa. Sabemos e rejubilamos, já que é sabido que o humilde neto de sapateiro é um homem que decide: decide apesar do seu superior directo; decide desprezando o Presidente da República; decide com bravata de toureiro em desafio ao líder da oposição; e decide, depois de tamanha decisão, engolir a bazófia e pedir desculpas de orelhas baixas, para não perder o poleiro. Mas decide, que raio!

Pedro Nuno Santos acha-se um homem providencial, tal qual o outro senhor que formou um partido só para si, cuja missão divina é decidir. Decidir por mim, por ti, por vocês, apesar de mim, de ti e de vocês. Para o filho de empresário conhecedor do sofrimento dos outros (o Maseratti tem janelas, que raio) todos nós, meros mortais, não temos outras capacidades além da obediência e da subserviente gratidão, ou outra função relevante que não seja votar nele com anuência cega. Mas a verdade é que Pedro Nuno Santos, o Mau Pagador que Faz Tremer as Pernas aos Banqueiros (sem os quais Portugal teria caído na bancarrota Zé Sócrates), não é mais que um absoluto seguidor da doutrina de governação do PS, fiel herdeiro da esquerda Jacobina da Iª República, para quem ou governam eles, ou não há governo. O Estado é o PS, tudo deve estar no PS e ninguém governa sem o PS.

No passado dia 11 de Novembro, já uma semana depois de ter pedido a demissão, António Costa explicou, com todas as letras, sob o olhar terno da sua esposa, sentada no chão, qual é a forma de governar que preconiza. É preciso é fazer, tomar decisões que oneram o bolso da metade produtiva do país (e apesar destes), mesmo que essas decisões sejam irresponsáveis, abusivas ou mirabolantes — é preciso é decidir, lá está. Decisões que, acima de tudo, pretendem alastrar o Estado a tudo, aumentar o peso do Estado sobre o indivíduo e abafar o privado em favor do Estado. Estado esse que tem de ser do PS, está infestado por funcionários do PS e não decide contra o PS.

Pedro Nuno Santos tem fé numa economia de Estado, em que as grandes empresas, as tais “estratégicas”, sempre nas mãos do Estado e em favor o Estado, suportam o Estado. Na antiga União Soviética, por exemplo, deu resultados fenomenais — especialmente para quem gosta de racionamentos. Pedro Nuno Santos acha que qualquer empresa sob a alçada do Estado (com as consequências da má gestão devidamente disfarçadas pelo esbulho fiscal, sem risco de falência) é um portento económico. Não tem estado atento ao que se passa à sua volta, depreende-se, ou não quer ver — o pior tipo de cego, segundo o ditado popular. Pedro Nuno Santos é dos que acha que a TAP, esse exemplo de eficácia económica do Estado, dá lucro sem devolver todo e qualquer cêntimo que ele obrigou o contribuinte a lá enterrar. O lucro só se conta quando se pagam as contas, e Pedro Nuno Santos, modesto neto de sapateiro e pedante filho de empresário, devia sabê-lo bem.

O homem providencial é sempre um potencial ditador — sabe sempre o que é melhor para os outros, apesar dos outros. É sempre um homem para quem as suas boas intenções justificam os meios usados para as alcançar. Talvez seja esta a hora de todas as pessoas de bem no país pensarem bem no que pretendem para si e para o país.

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