Paradoxalmente, Cabo Verde começou por ser terra de imigração sendo um arquipélago desabitado a? época dos descobrimentos. Num primeiro momento da sua historia acolheu sucessivos fluxos de colonos, comerciantes e escravos para depois, e de forma progressiva, dar origem, após um longo e secular processo de adaptação, aculturação e de afirmação cultural, a uma sociedade que podemos caracterizar como eminentemente emigratória.
Com o recente acordo de mobilidade laboral, assinado entre Portugal e Cabo Verde, nasce uma nova fase migratória, que visa dar resposta à necessidade de contratação de recursos humanos para os setores onde existe maior carência de mão de obra em Portugal.
O referido projeto envolve ainda outras entidades e autoridades portuguesas como o Serviço de Estrangeiros e Fronteira (SEF), Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Associação dos Industriais Hoteleiros e Similares do Algarve (AIHSA), Associação dos Horticultores, Floricultores e Horticultores dos Municípios de Odemira e Aljezur (AHSA) e empresas do setor da agricultura.
São cada vez mais frequentes as ações de recrutamento de empresas portuguesas no arquipélago, em áreas como hotelaria, restauração ou motoristas, com milhares de candidatos cabo-verdianos, consequência da alteração da ratificação do acordo de mobilidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da alteração da lei de vistos em Portugal.
O facto de Portugal se disponibilizar a intensificar a formação profissional e ajudar Cabo Verde a criar o ‘hub’ de formação profissional, sendo o nosso país um ponto estratégico de prestação de serviços de formação profissional para o espaço da CPLP, mas também para os países vizinhos, é sinal claro de que ganha Cabo Verde, com mais disponibilidade de mão-de-obra qualificada para as nossas empresas, mas também para as empresas em todo o mundo e para Portugal em particular.
Consequentemente falamos da Madeira e do Porto Santo onde é já notório esse fluxo migratório com maior destaque para o turismo, mais concretamente em algumas cadeias hoteleiras de renome.
Com o aumento do número de ofertas de emprego para cabo-verdianos em Portugal nos últimos meses, empresas portuguesas têm-se deslocado a Cabo Verde para promover os empregos disponíveis ou contactado instituições de formação profissional.
Precisamos todos, cada vez mais, de garantir que valorizamos o papel dos trabalhadores nas nossas sociedades. Com os acordos assinados entre ambos os arquipélagos no âmbito da migração laboral, temos uma forma de garantir que há capacidade de articulação total para que os movimentos também de migração e de mobilidade sejam feitos respeitando todos os direitos das pessoas e a sua real integração e, mais importante ainda, que ambos saiam a lucrar e à escala das suas pretensões e objetivos.
Que seja apenas o início de um novo ciclo. É assim apenas mais uma comprovação de que Cabo Verde e Portugal são países que de facto se preocupam um com o outro, dando sinal de continuidade ao futuro das relações e da promoção de boas práticas entre ambos.