Nessas possibilidades arriscamos e apostamos o que temos de melhor, seja com uma má ou com uma boa intenção. Prometemos e por vezes, cumprimos. Mas a intenção com que decidimos e agimos desaparece no esquecimento do tempo. Para os outros, nem sequer são as nossas ações que contam. São as suas interpretações sobre as nossas ações.
Dias de passadeiras vermelhas, na política, na televisão. Em ambos os lados promessas, realizações e depois, muitos comentários. Um sem número de horas são gastas em comentários sobre as ações dos outros. Penso que está na natureza humana comentar, coscuvilhar, ... poderá ser uma das formas com que o nosso cérebro limitado decide o valor social de cada um de nós. Vamos comentando e atribuindo valor, mas ações, essas são poucas.
No último domingo, João Reis ao receber o Globo de Ouro fez um discurso muito empolgado sobre a necessidade de defendermos as pessoas e a sobrevivência do planeta. Na mesma semana, sabemos dos países que estão a ficar exaustos com a inflação e o apoio à Ucrânia e dos jovens que colocaram em tribunal países por não cumprirem a defesa da natureza. Se não é possível conseguirmos entendermo-nos e lutarmos por ideais conjuntos, como será possível evitar a catástrofe climática que já se começa a viver?
Com mais um mês a bater recordes de temperaturas, parece cada vez mais difícil defender que o planeta está de saúde. Continuamos sem grandes avanços na luta pela defesa das alterações climáticas, nas guerras e refugiados. Nos próximos anos vamos passar a ter refugiados climáticos, para além dos refugiados da guerra. E o que vamos fazer? Campos de concentração de refugiados como os que já existem?
De várias formas, caminhamos a passos largos para precipícios e continuamos distraidamente a fazer a nossa vida, esperando por um milagre dos céus. Sem mudarmos a condenação biológica em que vivemos, não temos a capacidade de salvar nada neste mundo, nem acabar com a fome, nem acabar com as guerras, nem salvar o planeta do aquecimento global. Sem colocarmos as necessidades dos outros à frente das nossas, de uma forma global em cada ser humano, não é possível mudarmos o rumo. A História repete-se, de boas intenções está o inferno cheio e aqui vamos nós a caminho de mais miséria humana e planetária.
O futuro de todos nós depende de quanto acordados estamos para o que se passa à nossa volta e estamos dispostos a fazer para mudar o rumo dos acontecimentos. A sensação de "salvarmos o nosso estilo de vida" é mais uma das limitações humanas. Não há nada para manter. Tudo muda. Nenhum ecossistema sobrevive com o mercado capitalista, com o materialismo e individualismo do mundo ocidental. Pior é a exportação inevitável destas filosofias para os outros países do mundo, porque todo o ser humano é programado para apreciar o prazer. Colocamos outros nomes, outras intenções, mas no fim do dia, é o prazer que decide a maior parte das ações humanas. Até no bem fazer há prazer e por isso, também nas instituições de fazer o bem ao próximo há lutas de poder internas.
Com o estado atual da sociedade, do mundo e do clima, está a chegar a hora de deixarmos o foco do prazer e começarmos a ajudar os outros e o planeta. O caminho para sobrevivermos ao prazer é através de cultivarmos a paz interior, a serenidade, de onde vem a satisfação do dever realizado.