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Artigo de Opinião

31/10/2022 08:00

Esta vontade esbarrou nos adeptos do Marítimo. Primeiro em assembleia geral, onde foi discutida, de forma altamente calorosa, esta vontade do governo regional, e de onde saiu um expressivo não. Os sócios do Marítimo continuaram no finca pé e a 25 de maio Alberto João Jardim era vaiado em pleno estádio dos Barreiros, por adeptos do Marítimo. A verdade é que este intento do Governo Regional acabaria por não ir em frente.

Em meados de 2005, Jardim voltou a ressuscitar a ideia de um clube único de futebol para a Madeira, com uma nuance: o presidente do Governo Regional gostaria de ver os madeirenses a se pronunciar, em referendo, sobre esta proposta. Este retomar surgia numa altura em que as prestações do Marítimo e do Nacional na primeira Liga provocam um certo desencanto. Mas aqui a posição dos presidentes do Marítimo (Carlos Pereira) e Nacional (Rui Alves) foi contra e o assunto foi morrendo.

25 anos depois do chumbo originário, é mais uma vez Alberto João Jardim que retoma o assunto do clube único da Madeira para o futebol profissional, numa altura em que as duas equipas madeirenses ainda existentes nas ligas profissionais estão a lutar pela vida e o União praticamente desapareceu.

Pelo que se levanta, justamente, a questão: vale a pena discutir este assunto?

Desde logo há algo que importa deixar bem claro. A realidade dos clubes madeirenses e do futebol profissional português é hoje bem distinta daquela do momento em que foi pensado e proposto o clube único regional.

A ideia do clube único para a Região integrava vários conceitos que hoje dificilmente se verificam (ou se aceitam). Eram: i) a ideia de que o futebol profissional seria um meio, por excelência, de promoção da Madeira, quer no plano nacional, quer internacional; ii) a regularização dos passivos dos Clubes integrantes ao projeto e a concentração das verbas disponíveis para o futebol profissional de alta competição, numa sociedade desportiva única; iii) Garantir a participação da Madeira no escalão mais elevado da competição nacional; iv) Reservar os espaços publicitários nobres, designadamente no equipamento dos jogadores, ao nome Madeira.

Pelo que a discussão terá que necessariamente se concentrar em qual é a vantagem para a Madeira em suportar financeiramente um clube de futebol profissional, face à realidade do futebol negócio moderno e aos interesses acima elencados?

Sejamos honestos. Nenhuma. Não há qualquer interesse defensável e justificável, do ponto de vista político e estratégico da Madeira, em suportar financeiramente e logisticamente um clube de futebol profissional. Desde logo porque não há qualquer evidência de ganho efetivo para a Região, como um todo, por ter um clube madeirense na primeira liga (ou noutra qualquer). Depois, porque o facto de se concentrar todo o apoio em apenas num clube não garante resultados positivos ou a sua manutenção. E qual seria o valor de investimento anual necessário? Se tivermos em conta o perfil de outras regiões, perto de nós, com mercados muito maiores e populações amplamente superiores (Canárias, por exemplo), e que mesmo assim não alcançam o desiderato de ver os seus clubes regionais ao mais alto nível, o que custaria ao erário público colocar essa SAD na Liga dos Campeões? Ademais, quando se exige a redução do peso do estado no seu setor empresarial, como se justificaria, no âmbito do interesse público, a entrada da Região para o capital dominante numa SAD desportiva?

Se estas considerações têm tido eco na posição dos sucessivos governos regionais desde 2012 (inicialmente por exigências do PAEF), com a redução progressiva da subvenção às SADs do futebol, não podemos, porém, dizer que nenhum apoio deverá existir. Não nos podemos esquecer que ao Estado exige-se que crie condições para a prática desportiva da sua população. No caso da Madeira, e face às contingências geográficas e ao princípio da continuidade territorial, cabe à Região e, sobretudo, ao Estado Português, garantir que a localização geográfica não seja um handicap ou um condicionamento à participação dos clubes madeirenses nas competições nacionais. O apoio nas deslocações e viagens das equipas madeirenses (que deveria ser suportado pelo Estado e não apenas pela Região) é um apoio que se justifica e não pode, de todo, ser retirado. Mas para isto a condição de "clube único" é irrelevante.

Por fim, e não menos relevante, não podemos ignorar que os clubes madeirenses não nasceram ontem. O seu sucesso histórico, as rivalidades e tradições familiares, evidencia um conjunto de elementos identificativos, cada um com a sua própria simbologia, caraterístico de cada um dos clubes. E é esta raiz histórica, cultural e identificativa própria que condena o clube único administrativo a uma utopia.

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