Pare um pouco para pensar: sabe ou conhece alguma mulher que já tenha sofrido violência, seja ela física, psicológica ou sexual? Se eu pudesse apostar, apostaria que a sua resposta seria sim. Eu conheço. Conheço, pessoalmente, casos que vão de idas ao hospital, a amigas que foram apalpadas em autocarros cheios.
E sabia que em 2023, a cada 10 minutos, uma mulher ou rapariga foi morta às mãos de um parceiro ou um familiar? E que 736 milhões de mulheres globalmente – quase uma em cada três – foram sujeitas a violência física e/ou sexual por parte do parceiro íntimo, violência sexual não parceira, ou ambas, pelo menos uma vez na vida? Estes são dados feitos públicos esta semana pelas Nações Unidos. Por sua vez, a Comissão Europeia, divulgou também que 45% a 55% das mulheres acima dos 15 anos de idade na União Europeia (UE), admitiu ter sido vítimas de assédio sexual.
No dia 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, o mundo voltou a “vestir” laranja como parte da campanha “UniTE até 2030 para acabar com a violência contra as mulheres”, promovida pela ONU desde 2008. Durante 16 dias, ações globais buscam sensibilizar para esta pandemia, agravada pela COVID-19.
A UE aderiu à campanha, iluminando o edifício da Comissão Europeia de laranja. Este ano, entrou em vigor a primeira legislação europeia contra a violência de género e doméstica, criminalizando violência física, psicológica, económica, sexual e ciberviolência, incluindo a partilha não consensual de imagens íntimas.
Mesmo assim, nenhum país está livre de femicídios. Ainda que alguns sejam melhores lugares para mulheres, todos continuam a falhar. São necessárias leis mais fortes que responsabilizem os perpetradores. É necessário mais apoio às vítimas e às organizações/associações que dão suporte às vítimas. Muitas vezes, as mulheres sujeitam-se à violência por parte de um parceiro porque não têm como sair daquela situação. Apoiar organizações que oferecem suporte pode ser decisivo para salvar vidas.
É importante lembrar que as mulheres ou pessoas que enfrentam violência não estão sozinhas e que há esperança. Pequenos gestos podem fazer a diferença: ouvir sem julgar, oferecer apoio emocional ou direcionar a vítima a serviços de ajuda. A coragem para denunciar ou buscar ajuda pode ser difícil, mas nunca é tarde para recomeçar. Há redes de suporte prontas para dar uma mão.
Também é preciso que, enquanto sociedade, aprendendamos a reconhecer os sinais de violência. É preciso educar as nossas jovens, mas especialmente os nossos jovens. Essa ideia de que de portas para dentro, ninguém tem nada haver, não existe. Entre marido e mulher, mete-se a colher, sim!
A campanha das Nações Unidas tem como slogan “chega de mortes, chega de desculpas”, e chega mesmo. Este é um trabalho de todos. Por isso, se souber ou se se aperceber de que alguma amiga, familiar, vizinha ou seja quem for, está a ser vítima de violência, seja ela qual for, fale. Diga alguma coisa, chame as autoridades. É preciso terminar a violência contra as mulheres já! Assim como é preciso deixar no passado essa noção de “a minha vida chega-me”.
Em novembro de 2022, a Comissão Europeia lançou o número de telefone de apoio às vítimas de violência contra as mulheres em toda a UE. O número é 116016. As mulheres vítimas de violência podem ligar para este número em qualquer país da UE para aceder a apoio. Ninguém está sozinho.