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Artigo de Opinião

10/03/2023 08:00

Disclaimer 2

Não acredito que um pedófilo possa deixar de o ser. Pode ser forçado, pela sociedade ou pela sua própria consciência, a não ter qualquer ato sexual com crianças. Mas não me parece crível que um adulto que sente desejos sexuais por crianças deixe, alguma vez, de os sentir. Sentir algo tão inominável, tão hediondo é revelador de uma distorção absoluta sobre o que é a sexualidade, impossível de superar.

Claro que se percebe que, para mim, um pedófilo será sempre um pedófilo, mesmo que nunca mais se aproxime de uma criança. E é importante que não se aproxime porque será sempre um perigo. Sei bem do peso das minhas palavras. Imputo a um pedófilo uma culpa que deverá carregar para a vida. Mas eu não consigo ver de outra forma. Uma mente adulta que sexualiza uma criança é uma mente torpe e deformada. E também não vejo de que forma poderá o sistema de justiça recuperar, alguma vez, um pedófilo condenado. Vejamos, as penas têm uma tripla função: punir, reabilitar e dissuadir. Ora, se alguém ousa algo tão terrível, tão sórdido, como perpetrar um abuso sexual contra crianças, e não se deixa demover perante os gritos inocentes, a tristeza ou o choro de uma criança, então é porque não tem reabilitação possível e menos ainda poderá ser dissuadido por uma qualquer pena.


Disclaimer 3

Se para mim a pedofilia é absolutamente abjeta e imunda, pior são os pedófilos que o fazem a coberto de uma organização como a Igreja, que é um farol da moralidade. Que fique claro: não foi a Igreja que "criou" pedófilos, foram os pedófilos que se aproveitaram do facto da Igreja trabalhar com crianças e jovens e viram aí a oportunidade de poderem saciar a imundice dos seus desejos. Está bem documentado: os pedófilos procuram sempre os lugares onde estão as crianças, sejam instituições de acolhimento, escolas ou parques. Daí a necessidade destas instituições estarem permanente e extraordinariamente vigilantes. E nisto, a Igreja falhou: no seu dever de vigília!

Feitas as advertências, vamos à polémica do momento, que já não é o facto de clérigos terem abusado de crianças e menores, mas o posicionamento da Igreja perante a sua responsabilidade civil e moral e as atitudes que têm vindo a ser adotadas, pelas várias dioceses e pelos diferentes bispos, relativas às denúncias de casos concretos feitas pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de crianças na Igreja Católica Portuguesa.

Ponto 1: a Igreja, mesmo que não tenha o dever legal de indemnizar as vítimas, tem esse dever moral, que não é sequer discutível para nós, católicos.

Ponto 2: os suspeitos de crimes contra crianças devem ser imediatamente suspensos, afastados das suas funções e denunciados à justiça.

Ponto 3: quem foi conivente, por ação ou omissão, ou encobriu abusos sexuais de crianças e jovens na Igreja deve ser imediatamente suspenso.

Ponto 4: a Igreja, por ser a Guardiã da Palavra de Cristo, pela sua responsabilidade ética e pelos seus deveres em termos de ação social, está obrigada a criar sistemas eficazes e eficientes, com redundâncias, para a proteção de crianças e jovens. O que se passou não pode voltar a acontecer.

Ponto 5: o perdão é um dom de Deus. Um confessor pode perdoar, um católico também tem esse dever. Mas o perdão concedido não iliba ou absolve o abusador, não elimina o abuso, não repara o ato, nem compensa a vítima.

Ponto 6: a Conferência Episcopal Portuguesa tem a obrigação de ser absolutamente clara relativamente a estes pontos.

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