Finalmente acabaram-se as campanhas. Findaram-se as promessas. O meu pai, esse, pode voltar a fazer consultas até tarde. A minha mãe, essa, a ir buscar os meus miúdos à escola. Eu, a poder ir almoçar a casa deles sem ser recordado 17 vezes por minuto que a cruz era para ser feita no quadrado 9. Ou era no 6? No 3? 5? Olhem, já não sei. Era num deles.
Porém, neste período de campanha eleitoral, nem tudo foi mau. Eu, por exemplo, fico com uma tremenda pena de não ter ido ao espetáculo proporcionado pelo PAN no Jardim Municipal. Um tal de PAN Festival. Não, nem era por querer fazer a aula de zumba. Muito menos pela dança do ventre. Para ouvir os candidatos? Cá nada. O que eu queria mesmo era assistir à actuação da Drag Queen La Aura. Só que não deu! Àquela hora eu ainda estava a trabalhar. Paciência. Não se pode ter tudo. Ou bem trabalhar ou bem ter tempo para PANeleirices…
Por falar nisso, também já não podia com as constantes chamadas de atenção da Comissão Nacional de Eleições! Não sei quem é pior. Se a CNE, se os queixinhas. É que se um tipo fala, é porque fala. Se não fala, é porque fica Calado. Bolas. Cambada de criquinhas.
A certa altura, a dita Comissão, já me fazia lembrar uma professora primária. Sempre a chamar à atenção e a prometer sanções, mas sem chegar, vez alguma, a dar o castigo… Coitada. Parece que estou a vê-la a pôr-se de pé e, depois de bater três vezes no quadro, engrossar a voz dizendo: "Oh menino Miguel. Eu já não disse, por 38 vezes, que é para largares a tesoura e deixares as fitas dos teus colegas?". Na carteira do lado, a número 2, o aluno também não escapa a um raspanete: "E tu, Pedrinho? Estás à espera de quê para ficar Calado?". Nisto, já o 1.º mal comportado repetia a gracinha e punha-se a jeito para um recado na caderneta: "Raios me partam, de novo Miguel Filipe Machado de Albuquerque? Chega. Chega, não. Basta! Vais, de uma vez por todas, deixar-te de brincadeiras e trabalhar ou queres que chame, aqui à escola, o tio Alberto? Queres? Queres? Depois não te queixes".
Enquanto isto, do outro lado da sala novo sururu: "Valha-me Deus. Até tu, Nuno? Agora deu-te para ferver em água Morna? Deixa o teu colega da mão. Onde já se viu um liberal querer resolver os problemas à chapada? Mete-te antes com alguém do teu tamanho, rapaz. Tem juízo!".
Com tamanha barafunda na sala, e para piorar, nem os santinhos resistiram: "Pipinho. Sim, tu aí de verde. Põe-te quieto. Eu sei que o teu irmão anda sempre a atentar-te, mas concentra-te rapaz. Desvia-te dele. Olha, vai ali para a 5ª fila virado para a parede e pensa 10 minutos que família não se escolhe, mas bom comportamento sim…". E quando se pensava que só os rapazes eram problemáticos, eis que desponta da outra ponta uma representante dos direitos femininos. Sim, porque parecendo que não, esta turma era mista. Era pois. Também tinha meninas e torcidas.
"Célia, Célia. Até já estou com um formigueiro no Pessegueiro que não tenho. Sempre com queixinhas por causa da água? Já não te posso ouvir. Lavas-te depois, mulher. Agora senta-te e comporta-te como uma pura lady".
Que tor-men-to… Só de imaginar já me deu um es-go-ta-men-to. Não é de admirar, portanto, que haja cada vez mais falta de professores. Para aturar isto, só mesmo com mais colegas e meia dúzia do ensino especial.
Mas agora falando de coisas sérias, também esta semana tive conhecimento das considerações tecidas pelo Comandante do Corpo de Bombeiros Sapadores do Funchal. "Os veículos elétricos contribuem para o aumento dos atropelamentos". Facilmente se depreendeu que "o pouco ruído produzido por essas viaturas" seria o responsável pelas tragédias. Já eu continuo a achar que o perigo maior não são os carros, mas sim os condutores. No continente, uma mulher de 93 morreu atropelada acidentalmente por um carro que não era a pilhas. Distraído, o marido "passou-a ferro" numa marcha-atrás mal calculada. Enfim… Acontece. Agora descansa em paz, companheiro.