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Artigo de Opinião

Psiquiatra

14/09/2022 07:30

Mas grupos significa exposição, significa compromisso da nossa parte no respeito das partilhas alheias, significa também partilhar e confiar nos outros. Não deveria ser este o princípio básico da sociedade? Cuidarmos e protegermos os outros e pedir aos outros para cuidarem de nós?

Assim é. E nem que seja inconscientemente este princípio está presente na saúde. Acreditamos que temos um serviço nacional de saúde, que descontamos para ele, que queremos que ele cresça. Mas pagamos seguros, descontamos para subsistemas de saúde e algumas poupanças, para quando precisarmos, podermos ir aos hospitais privados. Exagero? Vejam os belos edifícios construídos de novo que são os principais hospitais privados do país. São mesmo bonitos.

Mas o que relação tem o bem-estar social com altas clínicas? Bem, esse é mais um defeito de profissão, a nossa história são também os nossos óculos do mundo. Tive a oportunidade de visitar um familiar de pessoas próximas estes dias. Sabíamos que a sua situação podia ser difícil. COVID, pneumonia hospitalar e duas infeções urinárias. Quando foi à urgência, queriam dar alta. Quando ficou internada, não queriam reanimar. Quando foi transferida, deram alta clínica. Mas as infeções continuam e pelo menos o antibiótico prescreveram, o soro, para uma senhora que nunca bebeu água na vida, esse fica por acontecer. Vamos aguardar pelo que a senhora tenha a sorte de acontecer, recuperar ou morrer. Porquê? Porque tem alta clínica e das altas clínicas não há médicos. Afinal, as pessoas já tiveram alta médica e as assistentes sociais e os benditos enfermeiros ficam a ser os únicos responsáveis por alguém que está doente, mas não o suficiente para ter um médico responsável.

E assim é na nossa sociedade. Casos de alta clínica por todo o lado. Passamos os dias nas nossas emoções e desejos. Queremos que o mundo seja melhor, mas primeiro vamos passar o dedo no Facebook®, instagram®, tiktok®, tinder®, badoo® e outras. As nossas necessidades individuais acima dos outros e do mundo. Claramente somos uma alta clínica global. Se eu fosse de outro planeta e chegasse pela primeira vez à terra, ia-me embora. Há coisas bonitas, paisagens, obras de arte e outras. Mas a humanidade... essa é uma alta clínica. Temos sinais de que estamos a destruir o planeta. Criamos mais lixo. Temos sinais graves de que estamos a destruir o planeta e que todos podem ver. Fazemos reuniões e umas manifestações. Vem um vírus. Pára tudo. Vamos fazer ainda mais lixo, destruir mais o planeta, mas salvámos vidas. E quando já não houver planeta para salvar? Bem, ou vamos destruir outro, ou resignamo-nos ao nosso destino com o planeta. Se isto não é uma alta clínica da humanidade, não sei o que é. Estamos tão confortáveis no nosso bem-estar social, que não queremos saber do que não "podemos mudar". Mas claramente algo não está bem connosco, quando passamos mais tempo a aceitar que o mundo vai arder todo e que vamos sufocar no plástico, do que a mudar.

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