Ao querer vociferar o seu desagrado pela política de Israel, estes perpetradores visam especificamente instituições judaicas: sinagogas, centros comunitários, restaurantes kosher, negócios detidos por judeus, ou tentam intimidar judeus individualmente. Este comportamento criminoso é profundamente lamentável, condenável e uma repetição do que os livros de História nos ensinam. Desde o dia 10/05 que dezenas de incidentes em solo europeu foram de natureza antissemítica, incluindo o vandalismo de sinagogas na Alemanha, em Espanha e no Reino Unido.
O Conselho Central de Judeus da Alemanha alertou para um aumento do discurso de ódio e ataques contra judeus, seja nas redes sociais seja em diversas manifestações em diversas cidades alemãs. Também em Portugal ocorreram manifestações com cânticos racistas de suposta “solidariedade com a Palestina”. Foi no Martim Moniz que se ouviu na passada semana “de Gaza a Jenin o povo está unido, mártir o teu sangue não será em vão”.
Nas palavras da escritora e investigadora especializada em temas judaicos Esther Mucznik num artigo de opinião no Público, os três séculos de Inquisição destruíram o judaísmo português “mas não acabaram com o preconceito”. Ou seja, existe um substrato perigoso deste tipo de discriminação.
É por isso fundamental aumentar a vigilância para monitorizar e condenar antissemitismo no nosso país, conforme a sua definição internacional, para que o Estado possa atuar e condenar devidamente esses atos e manifestações públicas. E também condenar os partidos políticos que querem saltar sobre um potencial eleitoral erróneo, segurando cartazes que rapidamente podem escalar para o antissemitismo.
À altura em que escrevo estas linhas, o cessar-fogo entre Israel e o Hamas foi pronunciado, mas sobre este facto reina o silêncio daqueles que estiveram na primeira linha das críticas à auto-defesa do Estado de Israel. Porque convém relembrar que o conflito começou com o lançamento de milhares de rockets sobre alvos civis em Israel, ao mesmo tempo que o Hamas sempre escolheu áreas residenciais em Gaza para os disparar.
Contudo, e a título de exemplo para sintetizar o posicionamento do Bloco de Esquerda, este rapidamente adotou o termo “apartheid” para descrever Israel. Vamos a factos. Israel é o único Estado democrático na sua zona geográfica. Onde árabes, judeus, cristãos, outros fiéis e ateus têm exatamente os mesmos direitos de participação política e social. É um Estado onde se respeitam a separação de poderes entre a justiça, o executivo, o legislativo e onde a sociedade civil é fortíssima. Onde o estatuto das mulheres, os direitos LGBTI e a liberdade de imprensa são exemplos para o mundo.
Claro que – com em qualquer estado democrático- não existe governação perfeita e erros são cometidos. Mas como é que isso é sequer comparável com a segregação racial implementada durante décadas na África do Sul? Ignorar esta linguagem perigosa, significa validá-la. Cuidado com as “modas” destes chavões políticos – podem ser um catalisador perigoso para uma máquina do tempo mais negro da história europeia. Estejamos alertas.