Não sei se alguma vez leram o Jornal Folha 8. Se não o fizeram, recomendo a sua leitura. Têm sempre artigos interessantes e, curiosamente, com muita semelhança com a ilha da Madeira nos problemas e temas que abordam. O Folha 8 é um Semanário Angolano, crítico do partido do poder, o MPLA. Ainda há pouco tempo, estava a dar uma vista de olhos no jornal online, que exponha vários casos de corrupção, quando me deparei com uma banda desenhada, satírica, entre dois cartoons, em que um cartoon perguntava ao outro: - “Sabes qual a melhor maneira de acabar com a corrupção?” Ao que o outro cartoon responde: - “É legalizando-a”, desatando ambos a rir. Ora aqui está uma boa solução para os problemas do nosso país, sobretudo, quando o desfecho das grandes investigações e acusações de corrupção acabam em águas de bacalhau. Não é preciso o Ministério Público, a Procuradoria-Geral da República, os aviões da Força-área. Muda-se a lei, descriminaliza-se a corrupção e o problema está resolvido. Poupa-se dinheiro, recursos, chatices e a saga interminável do engonhanço dos tribunais, de recurso em recurso, quando se trata da justiça dos ricos.
Outra boa solução para resolver o problema da corrupção na política e nos grandes negócios públicos é submetê-la a votação em atos eleitorais. Se o povo votar em favor dos negócios obscuros e em favor dos políticos que os patrocinam, a corrupção deixa de ser crime e alvo de repúdio, passa a ser aceite com normalidade e até ser vista com bastante admiração. O voto popular é como um género de absolvição dos “pecados” cometidos e um passaporte para que continuem a roubar. Em abono da verdade, tenho de dar os créditos à deputada do PAN, Mónica Freitas, por esta ideia de génio. Para que percebam, exatamente, a concretização desta teoria, transcrevo as palavras da deputada quando os jornalistas a questionaram se iria apoiar o governo do PSD: “Albuquerque deixou de ser o problema depois de vencer as eleições e não é o PAN que vai continuar a insistir num problema, que já foi legitimado pela população nas eleições antecipadas de 26 de maio”. Ou seja, como o povo “legitimou” a corrupção através do voto, não há mais discussão e o baile pode continuar. Talvez seja por esta falta de “brilhantismo” e “inovação política” perante a causa pública e a ética republicana, que o PTP não conseguiu eleger um deputado nas últimas eleições. Percebo, agora, porque a batizaram de “Cristiano Ronaldo” da política. Um autêntico génio da filosofia política. Platão, Aristóteles, Maquiavel e Karl Marx que se cuidem.
O Chega e a Iniciativa Liberal também são bons alunos da literatura política, neste caso da italiana. Foram os protagonistas do maior “conto do vigário” que a política madeirense já assistiu. Usurparam o lugar da verdadeira oposição, enganando e mentindo, dizendo querer combater a corrupção e mudar a política na Madeira. Conseguiram ser eleitos ao Parlamento Regional e uma vez lá repimpados, trataram de perpetuar o PSD no poder. Fizeram o oposto do que haviam se comprometido, para evitar eleições e proteger o seu lugarzinho na Assembleia. Com uma oposição deste nível, o PSD, vai governar eternamente. No final de contas, chego à conclusão, que Giuseppe Lampedusa, tinha razão quando escreveu no seu famoso romance “O Leopardo”: “É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”. O pensamento está tão gasto de ser citado, mas parece que a literatura clássica nunca cai em desuso!